terça-feira, 28 de setembro de 2010

Metaformose Leminski

Assisti ontem à Metaformose Leminski: Reflexões de Um Herói Que Não Quer Virar Pedra. Uma peça de teatro apresentada pelo Grupo Delírio, dirigida por Edson Bueno, inspirada numa obra do Leminski (Err, óbvio, tá no título, animal). A peça é muito boa, muito boa mesmo! E olha que eu não sou muito fã de teatro. Eu acho que muitas vezes as peças de teatro pecam por serem muito densas e pouco dinâmicas, e por isso ficam enfadonhas e não agradam a maioria dos mortais, eu incluso. Mas essa discussão postergarei, acho que vou tecer alguns comentários sobre cinema x teatro em outro post.
Voltando lá, Leminski, Metaformose... A peça é uma loucura, insana. Me senti dentro da mente do poeta. Leminski, num refluxo estomacal de muita cultura e mitologia ingeridas durante a vida, regurgita diversos mitos, reflexões, medos, desejos, cenas cotidianas em Curitiba, tudo de uma vez. A peça rola numa cadência agradável e convidativa, numa linguagem acessível. Eu que não entendo mais que o usual de mitologia grega, e obviamente não fui capaz de compreender todo o significado do que Leminski pretendia, tive uma ótima experiência como espectador. Acho que Leminski era como todos nós, tudo que ele queria era se encontrar em algum lugar. As diversas vozes na cabeça do poeta, os diversos eus da sua personalidade, ele traduz em heróis, deuses, ninfas... Desde os antigos, vai civilização, vem civilização, os temas humanos são os mesmos. Acho que o que nos diferencia de Leminski é a sua aceitação da insanidade que é ser e pensar a existência. Enquanto nós nos ocupamos com o cotidiano, Leminski se pergunta: Qual é o seu maior medo? 
Bom. Tô eu aqui falando um monte de abobrinha sem sentido porque o artista me contagiou. Quem puder, e tiver coragem de olhar nos olhos da Medusa, sem medo de virar pedra, que assista a peça e permita se contagiar.


segunda-feira, 27 de setembro de 2010

ABC do Amor

Dizem que ninguém é 100% heterossexual (claro que o Charles Bronson, se comparado com a população mundial, é estatisticamente nulo) . Bom, eu devo expressar minha porcentagem homossexual nos meus gostos audiovisuais.
Alem de cantarolar Mika, eu gosto de filmes como ABC do Amor. A historia do filme é conhecida: duas crianças que enfrentam a barra de se apaixonar pela primeira vez. E no caso dos homens, a barra é sempre maior, pois as mulheres são treinadas para isto, são Green Berets da sedução. Enquanto nós, com nossa eterna infantilidade afetiva, somos motivos de chacota!
Pois bem, o filme mescla sensibilidade, cenas cômicas e traz aquela sensação nostálgica de como era bom se apaixonar quando a vida era mais simples! Vale uma tarde monótona de domingo!

Eu também vou reclamar!

Eu acho engraçado como nós, pobres mortais, gostamos de reclamar. E damos uma grande importância para as coisas que ñ gostamos. Somos crianças ranzinzas. Fazemos questão de reclamar! Reclamamos da família restart, da novela, do crepúsculo, do zorra total, do funk carioca. E perdemos muito tempo com as coisas que ñ gostamos enquanto poderíamos aproveitar este tempo com aquilo que nos agrada.

Como ñ quero me tornar um Felipe Neto, farei o oposto deste. Usarei meu tempo e este espaço para catalogar esta música que estará no repeat por pelo menos uma semana no meu milestone.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Mr. Gordon Gekko

Assisti à pré-estreia de Wall Street 2 e saí satisfeito. O primeiro filme é um clássico, é O épico do mercado financeiro. O mercado traz experiências e emoções que foram muito bem exploradas por Stone. Já o novo filme se consagra pelo personagem de Michael Douglas, Mr. Gordon Gekko! O roteiro é apenas um pretexto, bullshit. Gekko preenche as cenas. Nestas épocas de sustentabilidade, Gekko é autosustentável (piada infame do dia). Gekko é a síntese do executivo egoísta, street smart, sedento, demasiado humano.

"Money is a bitch that never sleeps."
"Greed is good."
"It's not about the money, it's about the game."

Mr. Gekko está ainda melhor em Wall Street 2.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Músicas boas, interpretações poderosas!

Os Beatles foram a maior banda de rock e uma das grandes influências culturais do século passado! Ninguém em um estado de espírito são vai se emocionar ouvindo versões de Hey Jude, Let It Be e Hard Days Night tal qual quando ouve as originais. Resumindo: as músicas dos Beatles são definitivas.
Uma rara, pra não dizer única, exceção é esta interpretação convulsiva que Joe Cocker fez de With a Little Help From My Friends no psicodélico festival de Woodstock!

Não tem como não se arrepiar:

La tristesse durera toujours

Essa música foi composta em homenagem a Van Gogh. Algumas pessoas realmente nascem póstumas.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

As três saídas

O saudoso Roberto Campos quando perguntado sobre quais as saídas para os problemas brasileiros respondia dizendo que há três: o aeroporto do Galeão, o de Cumbica e o liberalismo.
Pelo rumo dos acontecimentos vamos ter que começar a pensar nas primeiras duas.

O amor acaba?


O cara disse. Numa esquina, num domingo, depois do teatro e do silêncio, na insônia, nas sorveterias, como se lhe faltasse energia. Ele não volta? Não deixa rastro ou renasce? Na esquina em que se beijaram uma vez, lá está, na sombra apagada pela luz, na poeira suspensa, na revolta da memória inconformada. Na solidão, lá vem ele, volta, com lamento, um quase desespero, e penso nos planos perdidos, que vida sem sentido… Na insônia, o amor cai como uma tonelada de lápide, e se eu tivesse feito diferente, e se eu tivesse sido paciente, e se eu tivesse insistido, suportado, indicado, transformado, reagido, escutado, abraçado? Na sorveteria, ele volta, o amor, em lembranças. Porque aquele sabor era o preferido dela, aquela cobertura era a preferida dela, aquela sorveteria era a preferida dela, aquela esquina, aquele bairro, aquele clima, aquela lua, aquele mês, aquela temperatura, aquela raça de cachorro, aquele programa de fim de tarde e aquele horário sem planos… No elevador, quantas saudades daqueles segundos em silêncio, presos na caixa blindada, vigiados por câmeras camufladas, loucos para se agarrarem, rirem, apertarem todos os botões, tirarem a roupa, escreverem ao lado do Atlasado: “Eu te amo”. Saudades é amor. Não se tem saudades do que não se amou. O amor não acaba, porque tenho saudades, me lembro dela, me preocupo com ela, torço por ela, e se sonho com ela, meu dia está feito. O amor não pode acabar, porque sem ela ou sem a esperança de revê-la, até a chance de tê-la de volta, não vejo a paz. Ela é uma trégua na minha guerra pessoal contra a minha paixão por ela. Amá-la me faz bem. Mesmo que ela não me ame, amo amá-la. Continuei amando desde o dia em que terminou. Passei meses amando como se não tivesse acabado. Ficaria anos amando mesmo se não tivesse voltado. O amor não acaba, muda. O amor não será, é. O amor está. Foi. Nas tantas músicas que ouvimos, que dançamos colados, trilhas das noites frias em que você sentava em mim nua, enquanto os meus braços imobilizavam os seus. Amor. O não-amor é o vazio. O antiamor também é amor. Eu te amava quando você respirava no meu ouvido. Lembra do meu dedo dentro de você? Amo-te, amo-te, amo-te. Instante secreto, sua boca incha, seus olhos apertam, suas unhas me arranham e você diz: Eu te amo! O amor acabou quando você se foi? Você sentiu saudades das minhas paredes, das cores das minhas camisas, da umidade da minha boca, do cheirinho do meu travesseiro, da minha torrada com mel, das noites pelados assistindo à tevê, dos vinhos entornados no lençol, do café da manhã com jornal, você sentiu falta de atravessar a avenida comigo de mãos dadas, de correr da chuva, de eu te indicar um livro, do cinema gelado em que vimos o filme sem fim, torcendo para acabar logo e ficarmos a sós, você sentiu falta da minha risada, inconveniência, de eu ser seu amante, noivo, amigo e marido, dos meus olhos te espiando, dos meus dentes mordendo e mastigando, ficou tanto tempo longe e pensou em nós especialmente bêbada ou louca, queria me ligar, me escrever, meu cheiro aparecia de repente, meu vulto estava sempre ali, acaba? Diz que acaba. Como acaba? Não acaba. Diz, não acaba. Repete. Falei? Não acaba. Pode virar amor não correspondido. Pode ser amor com ódio, paixão com amor. Tem o amor e o nada. Ah, mais uma coisa. Antes que eu me esqueça. O amor não acaba. Vira. Se acabar, não era amor.

~A (lindíssima) foto é do curitibano Eduardo Macarios

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Tarantino

Eu nunca imaginei que catalogar coisas pudesse ser algo viciante! Mas aqui estou eu, meia-noite e meia no meu quarto, me segurando para não entupir o blog!
Infelizmente, não vou conseguir me conter! Inspirado pelo último post, este curta metragem sensacional estrelado por Selton Mello e o Seu Jorge!
Acho que bons filmes podem ser feito com baixo orçamento, desde que o roteiro seja bom!


Pulp Fiction

Eu pensei em escrever sobre o pessimismo de Schopenhauer, sobre os mitos e as religiões que ainda assolam o mundo em pleno séc. XXI, sobre reptilianos e como algumas teorias conspiratórias preenchem minha vida, sobre ameaças socialistas, mas desisti. Vai ficar pra outro dia. A procrastinação é o mal do século e minha melhor amiga. Vou escrever apenas que todos os seres do sul do universo deveriam assistir Pulp Fiction algumas dezenas de vezes.
Esta cena é despretensiosa, pouco importante para o roteiro mas fundamental para uma boa vida. Aqui vai.


A música é Chuck Berry - You can never tell

terça-feira, 14 de setembro de 2010

1978, Chico




A Abril lançou mais uma coleção das boas: Coleção Chico Buarque. Já comecei algumas, tive vontade de fazer outras, mas nunca completei coisa nenhuma. Dessa vez decidi levar até o fim - mesmo que pese no bolso - porque vale muito a pena!

São vinte volumes, cada um por R$14,90 (só o primeiro custou menos). O encarte de cada CD tem a história da época, fotos e as letras das músicas. E agora, fuçando o site, vi que a próxima coleção é do Tim Maia. Tchau, salário!

Um pouco do primeiro CD, Chico Buarque 1978:

Feijoada Completa
"Mulher, você vai gostar, tô levando uns amigos pra conversar. Eles vão com uma fome que nem me contem. Eles vão com uma sede de anteontem. Salta cerveja estupidamente gelada prum batalhão, e vamos botar água no feijão"
Trocando em Miúdos

"Eu bato o portão sem fazer alarde, eu levo a carteira de identidade, uma saideira, muita saudade, e a leve impressão de que já vou tarde"
Até o Fim
"Quando eu nasci veio um anjo safado, o chato dum querubim. E decretou que eu tava predestinado a ser errado assim. Já de saída a minha estrada entortou, mas vou até o fim"
Pedaço de Mim
"A saudade é arrumar o quarto, do filho que já morreu"
Apesar de você
"Você vai se amargar vendo o dia raiar sem lhe pedir licença, e eu vou morrer de rir, que esse dia há de vir antes do que você pensa"

The Be Good Tanyas

Alem de horas de entretenimento, o seriado Weeds me deu uma porção de achados musicais espetaculares!
Um dos melhores é o trio folk canadense The Be Good Tanyas! Aumenta o som:

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Peso X leveza

Difícil escolher apenas um, mas esse deve ser um dos meus trechos preferidos de A insustentável leveza do ser:

"Mas será mesmo atroz o peso e bela a leveza?
O mais pesado dos fardos nos esmaga, verga-nos, comprime-nos contra o chão. Na poesia amorosa de todos os séculos, porém, a mulher deseja receber o fardo do corpo masculino. O mais pesado dos fardos é, portanto, ao mesmo tempo a imagem da realização vital mais intensa. Quanto mais pesado é o fardo, mais próxima da terra está nossa vida, e mais real e verdadeira ela é.
Em compensação, a ausência total de fardo leva o ser humano a se tornar mais leve que o ar, leva-o a voar, a se distanciar da terra, do ser terrestre, a se tornar semi-real, e leva seus movimentos a ser tão livres como insignificantes.
O que escolher, então? O peso ou a leveza?"

Detrás do rosto

Como não poderia deixar de ser, é do Gullar o meu primeiro registro, previsível que sou.


Acho que mais me imagino
do que sou
ou o que sou não cabe
no que consigo ser
e apenas arde
detrás desta máscara morena
que já foi rosto de menino.


Conduzo
sob minha pele
uma fogueira de um metro e setenta de altura.
Não quero assustar ninguém.
Mas se todos se escondem no sorriso
na palavra medida
devo dizer
que o poeta gullar é uma criança
que não consegue morrer
e que pode
a qualquer momento
desintegrar-se em soluços.


Você vai rir se lhe disser
que estou cheio de flor e passarinho
que nada
do que amei na vida se acabou:
e mal consigo andar
tanto isso pesa.

Pode você calcular quantas toneladas de luz
comporta
um simples roçar de mãos?
ou o doce penetrar
na mulher amorosa?


Só disponho de meu corpo
para operar o milagre
esse milagre
que a vida traz
e záz
dissipa às gargalhadas.

Da Fuga - Frederico Garcia Lorca





Perdi-me muitas vezes pelo mar,
o ouvido cheio de flores recém-cortadas,
a língua cheia de amor e de agonia.
Muitas vezes perdi-me pelo mar,
como me perco no coração de alguns meninos.


Não há noite em que, ao dar um beijo,
não sinta o sorriso das pessoas sem rosto,
nem há ninguém que, ao tocar um recém-nascido,
se esqueça das imóveis caveiras de cavalo.


Porque as rosas buscam na frente
uma dura paisagem de osso
e as mãos do homem não têm mais sentido
senão imitar as raízes sob a terra.


Como me perco no coração de alguns meninos,
perdi-me muitas vezes pelo mar.
Ignorante da água vou buscando 
uma morte de luz que me consuma.


Em español:


Me he perdido muchas veces por el mar
con el oído lleno de flores recién cortadas,
con la lengua llena de amor y de agonía.
Muchas veces me he perdido por el mar
como me pierdo en el corazón de algunos niños. 

No hay noche que, al dar un beso,
no sienta la sonrisa de las gentes sin rostro
ni hay nadie que, al tocar un recién nacido,
olvide las inmóviles calaveras de caballo. 

Porque las rosas buscan en la frente
un duro paisaje de hueso
y las manos del hombre no tienen más sentido
que imitar a las raíces bajo tierra. 

Como me pierdo en el corazón de algunos niños
me he perdido muchas veces por el mar.
Ignorante del agua voy buscando
una muerte de luz que me consuma.

nostalgias


na época eu era um sujeito perseguido pelas nostalgias. sempre tinha sido, e não sabia como me livrar da saudade para viver tranqüilamente.

ainda não aprendi. e desconfio que nunca vou aprender. mas pelo menos já sei uma coisa valiosa: é impossível me livrar da saudade porque é impossível se livrar da memória. você não pode se livrar daquilo que amou.

isso tudo vai estar sempre com a gente. sempre vamos desejar recuperar o lado bom da vida e esquecer e desnutrir a memória do lado mau. apagar as perversidades que cometemos, desfazer a lembrança das pessoas que nos magoaram, eliminar as tristezas e as épocas de infelicidade.

é totalmente humano, então, ser um nostálgico, e a única solução é aprender a conviver com a saudade. talvez, por nossa sorte, a saudade possa se transformar, de uma coisa depressiva e triste, numa pequena faísca que nos impulsione para o novo, para nos entregar a outro amor, a outra cidade, a outro tempo, que talvez seja melhor ou pior, não importa, mas será diferente. e isso é o que todos procuramos todo dia: não desperdiçar a vida na solidão, encontrar alguém, entregar-nos um pouco, evitar a rotina, desfrutar a nossa parte da festa.

~trecho de Esmagado pela Merda, de Pedro Juan Gutiérrez (em Trilogia Suja de Havana).

domingo, 12 de setembro de 2010

Islândia

Esta reportagem, publicada pela Go Ouside, foi escrita logo após a crise mundial que levou a Islandia a falência. Nela, Eric Hansen, com uma escrita leve e bem humorada, mostra o porque que os países nórdicos, em especial a Islandia, são o supra sumo do desenvolvimento humano!

"...PASSEI OS PRIMEIROS dois dias em Reykjavík, "colocando meu dedo no pulso da cidade" - por exemplo, enchendo a cara em bares enquanto entrevistava o pessoal da moda. A pequena capital parecia estar ok. Num shopping cheio de gente, um artista vestindo calças prateadas cantava para as crianças enquanto os pais faziam compras. Várias Range Rovers da época das vacas gordas (agora apelidados de "Game Overs") continuavam rodando pelas ruas.

E, às cinco da manhã de domingo, lindas mulheres com seus vestidos de noite ainda cambaleavam para fora dos bares para vomitar nas ruas nevadas. Mas nem tudo estava como deveria. Um amigo fotógrafo teve seu fi- nanciamento congelado. Ninguém estava tirando férias no Caribe. E na tarde de sábado, uns mil manifestantes reuniram-se em frente do prédio do parlamento com faixas onde se lia "não à corrupção".

Uma hora depois, eles largaram as faixas e empurraram seus carrinhos de bebê para encontrar seus amigos nos cafés. Apesar da ira demonstrada nas ruas - que em janeiro levou ao pedido de demissão do Primeiro Ministro Geir Haarde -, as pessoas pareciam suficientemente felizes. A média estava em 7,5, incluindo respostas de mesa de bar, que iam de 5 a 9,4, às vezes vindas de uma mesma pessoa...

Os islandeses adoram arte, abraçam qualquer tipo de espiritualidade, são altamente alfabetizados (diz-se que um em cada dez vai escrever um livro na vida). Virtualmente, todo mundo é geneticamente aparentado, então tentam sempre se ajudar. Depois de dois dias de pesquisa, posso acrescentar que, como quase qualquer um, os islandeses são mesmo legais..."

Quem tiver interesse, a reportagem completa está em: http://gooutside.terra.com.br/Edicoes/49/artigo141338-1.asp

Músicas boas, interpretações poderosas!

sábado, 11 de setembro de 2010

Agenda - Gotan Project

Imperdível! Gotan Project é simplesmente do caralho!

Gotan Project no Brasil
Rio de Janeiro
Data: 6 de outubro
Onde: Vivo Rio - Avenida Infante Dom Henrique, 85
Horário: 22h00
Ingressos: De R$ 80 a R$ 250
Informações: www.vivorio.com.br
São Paulo
Data: 7 de outubro
Onde: HSBC Brasil - Rua Bragança Paulista, 1.281
Horário: 22h00
Ingressos: De R$ 100 a R$ 350
Informações: www.hsbcbrasil.com.br / www.ingressorapido.com.br
Salvador
Data: 13 de outubro
Onde: Teatro Castro Alves - Praça Dois de Julho, s/n
Informações: www.tca.ba.gov.br
Porto Alegre
Data: 15 de outubro
Onde: Teatro do SESI - Av. Assis Brasil, 8.787
Informações: www.centrodeeventosfiergs.com.br

Uma amostra da minha música preferida deles.


Mais de Gotan:



sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Pequenas Ideias Cotidianas

Me preocupo com pessoas que carregam sua solidão como um fardo, é isso que a faz sê-lo. E não só porque as coisas são como as definimos. - Carol Castro

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

O melhor conto do mundo!

Este é provavelmente o melhor conto que já li até hoje. Fico feliz de tê-lo encontrado novamente!

Isaac Asimov - A Última Pergunta

A última pergunta foi feita pela primeira vez, meio que de brincadeira, no dia 21 de maio de 2061, quando a humanidade dava seus primeiros passos em direção à luz. A questão nasceu como resultado de uma aposta de cinco dólares movida a álcool, e aconteceu da seguinte forma.

Alexander Adell e Bertram Lupov eram dois dos fiéis assistentes de Multivac. Eles conheciam melhor do que qualquer outro ser humano o que se passava por trás das milhas e milhas da carcaça luminosa, fria e ruidosa daquele gigantesco computador. Ainda assim, os dois homens tinham apenas uma vaga noção do plano geral de circuitos que há muito haviam crescido além do ponto em que um humano solitário poderia sequer tentar entender.

Multivac ajustava-se e corrigia-se sozinho. E assim tinha de ser, pois nenhum ser humano poderia fazê-lo com velocidade suficiente, e tampouco da forma adequada. Deste modo, Adell e Lupov operavam o gigante apenas sutil e superficialmente, mas, ainda assim, tão bem quanto era humanamente possível. Eles o alimentavam com novos dados, ajustavam as perguntas de acordo com as necessidades do sistema e traduziam as respostas que lhes eram fornecidas. Os dois, assim como seus colegas, certamente tinham todo o direito de compartilhar da glória que era Multivac.


Por décadas, Multivac ajudou a projetar as naves e enredar as trajetórias que permitiram ao homem chegar à Lua, Marte e Vênus, mas para além destes planetas, os parcos recursos da Terra não foram capazes de sustentar a exploração. Fazia-se necessária uma quantidade de energia grande demais para as longas viagens. A Terra explorava suas reservas de carvão e urânio com eficiência crescente, mas havia um limite para a quantidade de ambos.

No entanto, lentamente Multivac acumulou conhecimento suficiente para responder questões mais profundas com maior fundamentação, e em 14 de maio de 2061, o que não passava de teoria tornou-se real.

A energia do sol foi capturada, convertida e utilizada diretamente em escala planetária. Toda a Terra paralisou suas usinas de carvão e fissões de urânio, girando a alavanca que conectou o planeta inteiro a uma pequena estação, de uma milha de diâmetro, orbitando a Terra à metade da distância da Lua. O mundo passou a correr através de feixes invisíveis de energia solar.

Sete dias não foram o suficiente para diminuir a glória do feito e Adell e Lupov finalmente conseguiram escapar das funções públicas e encontrar-se em segredo onde ninguém pensaria em procurá-los, nas câmaras desertas subterrâneas onde se encontravam as porções do esplendoroso corpo enterrado de Multivac. Subutilizado, descansando e processando informações com estalos preguiçosos, Multivac também havia recebido férias, e os dois apreciavam isso. A princípio, eles não tinham a intenção de incomodá-lo.

Haviam trazido uma garrafa consigo e a única preocupação de ambos era relaxar na companhia do outro e da bebida.

“É incrível quando você pára pra pensar…,” disse Adell. Seu rosto largo guardava as linhas da idade e ele agitava o seu drink vagarosamente, enquanto observava os cubos de gelo nadando desengonçados. “Toda a energia que for necessária, de graça, completamente de graça! Energia suficiente, se nós quiséssemos, para derreter toda a Terra em uma grande gota de ferro líquido, e ainda assim não sentiríamos falta da energia utilizada no processo. Toda a energia que nós poderíamos um dia precisar, para sempre e eternamente.”

Lupov movimentou a cabeça para os lados. Ele costumava fazer isso quando queria contrariar, e agora ele queria, em parte porque havia tido de carregar o gelo e os utensílios. “Eternamente não,” ele disse.

“Ah, diabos, quase eternamente. Até o sol se apagar, Bert.”

“Isso não é eternamente.”

“Está bem. Bilhões e bilhões de anos. Dez bilhões, talvez. Está satisfeito?”

Lupov passou os dedos por entre seus finos fios de cabelo como que para se assegurar de que o problema ainda não estava acabado e tomou um gole gentil da sua bebida. “Dez bilhões de anos não é a eternidade”

“Bom, vai durar pelo nosso tempo, não vai?”

“O carvão e o urânio também iriam.”

“Está certo, mas agora nós podemos ligar cada nave individual na Estação Solar, e elas podem ir a Plutão e voltar um milhão de vezes sem nunca nos preocuparmos com o combustível. Você não conseguiria fazer isso com carvão e urânio. Se não acredita em mim, pergunte ao Multivac.”

“Não preciso perguntar a Multivac. Eu sei disso”

“Então trate de parar de diminuir o que Multivac fez por nós,” disse Adell nervosamente, “Ele fez tudo certo”.

“E quem disse que não fez? O que estou dizendo é que o sol não vai durar para sempre. Isso é tudo que estou dizendo. Nós estamos seguros por dez bilhões de anos, mas e depois?” Lupov apontou um dedo levemente trêmulo para o companheiro. “E não venha me dizer que nós iremos trocar de sol”

Houve um breve silêncio. Adell levou o copo aos lábios apenas ocasionalmente e os olhos de Lupov se fecharam. Descansaram um pouco, e quando suas pálpebras se abriram, disse, “Você está pensando que iremos conseguir outro sol quando o nosso estiver acabado, não está?”

“Não, não estou pensando.”

“É claro que está. Você é fraco em lógica, esse é o seu problema. É como o personagem da história, que, quando surpreendido por uma chuva, corre para um grupo de árvores e abriga-se embaixo de uma. Ele não se preocupa porque quando uma árvore fica molhada demais, simplesmente vai para baixo de outra.”

“Entendi,” disse Adell. “Não precisa gritar. Quando o sol se for, as outras estrelas também terão se acabado.”

“Pode estar certo que sim” murmurou Lupov. “Tudo teve início na explosão cósmica original, o que quer que tenha sido, e tudo terá um fim quando as estrelas se apagarem. Algumas se apagam mais rápido que as outras. Ora, as gigantes não duram cem milhões de anos. O sol irá brilhar por dez bilhões de anos e talvez as anãs permaneçam assim por duzentos bilhões. Mas nos dê um trilhão de anos e só restará a escuridão. A entropia deve aumentar ao seu máximo, e é tudo.”

“Eu sei tudo sobre a entropia,” disse Adell, mantendo a sua dignidade.

“Duvido que saiba.”

“Eu sei tanto quanto você.”

“Então você sabe que um dia tudo terá um fim.”

“Está certo. E quem disse que não terá?”

“Você disse, seu tonto. Você disse que nós tínhamos toda a energia de que precisávamos, para sempre. Você disse ´para sempre`.”

Era a vez de Adell contrariar. “Talvez nós possamos reconstruir as coisas de volta um dia,” ele disse.

“Nunca.”

“Por que não? Algum dia.”

“Nunca”

“Pergunte a Multivac.”

“Você pergunta a Multivac. Eu te desafio. Aposto cinco dólares que isso não pode ser feito.”

Adell estava bêbado o bastante para tentar, e sóbrio o suficiente para construir uma sentença com os símbolos e as operações necessárias em uma questão que, em palavras, corresponderia a esta: a humanidade poderá um dia sem nenhuma energia disponível ser capaz de reconstituir o sol a sua juventude mesmo depois de sua morte?

Ou talvez a pergunta possa ser posta de forma mais simples da seguinte maneira: A quantidade total de entropia no universo pode ser revertida?

Multivac mergulhou em silêncio. As luzes brilhantes cessaram, os estalos distantes pararam.

E então, quando os técnicos assustados já não conseguiam mais segurar a respiração, houve uma súbita volta à vida no visor integrado àquela porção de Multivac. Cinco palavras foram impressas: “DADOS INSUFICIENTES PARA RESPOSTA SIGNIFICATIVA.”

Na manhã seguinte, os dois, com dor de cabeça e a boca seca, já não lembravam do incidente.

* * *

Jerrodd, Jerrodine, e Jerrodette I e II observavam a paisagem estelar no visor se transformar enquanto a passagem pelo hiperespaço consumava-se em uma fração de segundos. De repente, a presença fulgurante das estrelas deu lugar a um disco solitário e brilhante, semelhante a uma peça de mármore centralizada no televisor.

“Este é X-23,” disse Jerrodd em tom de confidência. Suas mãos finas se apertaram com força por trás das costas até que as juntas ficassem pálidas.

As pequenas Jerodettes haviam experimentado uma passagem pelo hiperespaço pela primeira vez em suas vidas e ainda estavam conscientes da sensação momentânea de tontura. Elas cessaram as risadas e começaram a correr em volta da mãe, gritando, “Nós chegamos em X-23, nós chegamos em X-23!”

“Quietas, crianças.” Disse Jerrodine asperamente. “Você tem certeza Jerrodd?”

“E por que não teria?” Perguntou Jerrodd, observando a protuberância metálica que jazia abaixo do teto. Ela tinha o comprimento da sala, desaparecendo nos dois lados da parede, e, em verdade, era tão longa quanto a nave.

Jerrodd tinha conhecimentos muito limitados acerca do sólido tubo de metal. Sabia, por exemplo, que se chamava Microvac, que era permitido lhe fazer questões quando necessário, e que ele tinha a função de guiar a nave para um destino pré-estabelecido, além de abastecer-se com a energia das várias Estações Sub-Galácticas e fazer os cálculos para saltos no hiperespaço.

Jerrodd e sua família tinham apenas de aguardar e viver nos confortáveis compartimentos da nave. Alguém um dia disse a Jerrodd que as letras “ac” na extremidade de Microvac significavam “automatic computer” em inglês arcaico, mas ele mal era capaz de se lembrar disso.

Os olhos de Jerrodine ficaram úmidos quando observava o visor. “Não tem jeito. Ainda não me acostumei com a idéia de deixar a Terra.”

“Por que, meu deus?” inquiriu Jerrodd. “Nós não tínhamos nada lá. Nós teremos tudo em X-23. Você não estará sozinha. Você não será uma pioneira. Há mais de um milhão de pessoas no planeta. Por Deus, nosso bisneto terá que procurar por novos mundos porque X-23 já estará super povoado.” E, depois de uma pausa reflexiva, “No ritmo em que a raça tem se expandido, é uma benção que os computadores tenham viabilizado a viagem interestelar.”

“Eu sei, eu sei”, disse Jerrodine com descaso.

Jerrodete I disse prontamente, “Nosso Microvac é o melhor de todos.”

“Eu também acho,” disse Jerrodd, alisando o cabelo da filha.

Ter um Microvac próprio produzia uma sensação aconchegante em Jerrodd e o deixava feliz por fazer parte daquela geração e não de outra. Na juventude de seu pai, os únicos computadores haviam sido máquinas monstruosas, ocupando centenas de milhas quadradas, e cada planeta abrigava apenas um. Eram chamados de ACs Planetários. Durante um milhar de anos, eles só fizeram aumentar em tamanho, até que, de súbito, veio o refinamento. No lugar dos transistores, foram implementadas válvulas moleculares, permitindo que até mesmo o maior dos ACs Planetários fosse reduzido à metade do volume de uma espaçonave.

Jerrodd sentiu-se elevado, como sempre acontecia quando pensava que seu Microvac pessoal era muitas vezes mais complexo do que o antigo e primitivo Multivac que pela primeira vez domou o sol, e quase tão complexo quanto o AC Planetário da Terra, o maior de todos, quando este solucionou o problema da viagem hiperespacial e tornou possível ao homem chegar às estrelas.

“Tantas estrelas, tantos planetas,” pigarreou Jerrodine, ocupada com seus pensamentos. “Eu acho que as famílias estarão sempre à procura de novos mundos, como nós estamos agora.”

“Não para sempre,” disse Jerrodd, com um sorriso. “A migração vai terminar um dia, mas não antes de bilhões de anos. Muitos bilhões. Até as estrelas têm um fim, você sabe. A entropia precisa aumentar.”

“O que é entropia, papai?” Jerrodette II perguntou, interessada.

“Entropia, meu bem, é uma palavra para o nível de desgaste do Universo. Tudo se gasta e acaba, foi assim que aconteceu com o seu robozinho de controle remoto, lembra?”

“Você não pode colocar pilhas novas, como em meu robô?”

“As estrelas são as pilhas do universo, querida. Uma vez que elas estiverem acabadas, não haverá mais pilhas.”

Jerrodette I se prontificou a responder. “Não deixe, papai. Não deixe que as estrelas se apaguem.”

“Olha o que você fez,” sussurrou Jerrodine, exasperada.

“Como eu ia saber que elas ficariam assustadas?” Jerrodd sussurrou de volta.

“Pergunte ao Microvac,” propôs Jerrodette I. “Pergunte a ele como acender as estrelas de novo.”

“Vá em frente,” disse Jerrodine. “Ele vai aquietá-las.” (Jerrodette II já estava começando a chorar.)

Jerrodd se mostrou incomodado. “Bem, bem, meus anjinhos, vou perguntar a Microvac. Não se preocupem, ele vai nos ajudar.”

Ele fez a pergunta ao computador, adicionando, “Imprima a resposta”.

Jerrodd olhou para a o fino pedaço de papel e disse, alegremente, “Viram? Microvac disse que irá cuidar de tudo quando a hora chegar, então não há porque se preocupar.”

Jerrodine disse, “E agora crianças, é hora de ir para a cama. Em breve nós estaremos em nosso novo lar.”

Jerrodd leu as palavras no papel mais uma vez antes de destruí-lo: DADOS INSUFICIENTES PARA RESPOSTA SIGNIFICATIVA.

Ele deu de ombros e olhou para o televisor, X-23 estava logo à frente.

* * *

VJ-23X de Lameth fixou os olhos nos espaços negros do mapa tridimensional em pequena escala da Galáxia e disse, “Me pergunto se não é ridículo nos preocuparmos tanto com esta questão.”

MQ-17J de Nicron balançou a cabeça. “Creio que não. No presente ritmo de expansão, você sabe que a galáxia estará completamente tomada dentro de cinco anos.”

Ambos pareciam estar nos seus vinte anos, ambos eram altos e tinham corpos perfeitos.

“Ainda assim,” disse VJ-23X, “hesitei em enviar um relatório pessimista ao Conselho Galáctico.”

“Eu não consigo pensar em outro tipo de relatório. Agite-os. Nós precisamos chacoalhá-los um pouco.”

VJ-23X suspirou. “O espaço é infinito. Cem bilhões de galáxias estão a nossa espera. Talvez mais.”

“Cem bilhões não é o infinito, e está ficando menos ainda a cada segundo. Pense! Há vinte mil anos, a humanidade solucionou pela primeira vez o paradigma da utilização da energia solar, e, poucos séculos depois, a viagem interestelar tornou-se viável. A humanidade demorou um milhão de anos para encher um mundo pequeno e, depois disso, quinze mil para abarrotar o resto da galáxia. Agora a população dobra a cada dez anos…”

VJ-23X interrompeu. “Devemos agradecer à imortalidade por isso.”

“Muito bem. A imortalidade existe e nós devemos levá-la em conta. Admito que ela tenha o seu lado negativo. O AC Galáctico já solucionou muitos problemas, mas, ao fornecer a resposta sobre como impedir o envelhecimento e a morte, sobrepujou todas as outras conquistas.”

“No entanto, suponho que você não gostaria de abandonar a vida.”

“Nem um pouco.” Respondeu MQ-17J, emendando. “Ainda não. Eu não estou velho o bastante. Você tem quantos anos?”

“Duzentos e vinte e três, e você?”

“Ainda não cheguei aos duzentos. Mas, voltando à questão; a população dobra a cada dez anos, uma vez que esta galáxia estiver lotada, haverá uma outra cheia dentro de dez anos. Mais dez e teremos ocupado por inteiro mais duas galáxias. Outra década e encheremos mais quatro. Em cem anos, contaremos um milhar de galáxias transbordando de gente. Em mil anos, um milhão de galáxias. Em dez mil, todo o universo conhecido. E depois?

VJ-23X disse, “Além disso, há um problema de transporte. Eu me pergunto quantas unidades de energia solar serão necessárias para movimentar as populações de uma galáxia para outra.”

“Boa questão. No presente momento, a humanidade consome duas unidades de energia solar por ano.”

“Da qual a maior parte é desperdiçada. Afinal, nossa galáxia sozinha produz mil unidades de energia solar por ano e nós aproveitamos apenas duas.”

“Certo, mas mesmo com 100% de eficiência, podemos apenas adiar o fim. Nossa demanda energética tem crescido em progressão geométrica, de maneira ainda mais acelerada do que a população. Ficaremos sem energia antes mesmo que nos faltem galáxias. É uma boa questão. De fato uma ótima questão.”

“Nós precisaremos construir novas estrelas a partir do gás interestelar.”

“Ou a partir do calor dissipado?” perguntou MQ-17J, sarcástico.

“Pode haver algum jeito de reverter a entropia. Nós devíamos perguntar ao AC Galáctico.”

VJ-23X não estava realmente falando sério, mas MQ-17J retirou o seu Comunicador-AC do bolso e colocou na mesa diante dele.

“Parece-me uma boa idéia,” ele disse. “É algo que a raça humana terá de enfrentar um dia.”

Ele lançou um olhar sóbrio para o seu pequeno Comunicador-AC. Tinha apenas duas polegadas cúbicas e nada dentro, mas estava conectado através do hiperespaço com o poderoso AC Galáctico que servia a toda a humanidade. O próprio hiperespaço era parte integral do AC Galáctico.

MQ-17J fez uma pausa para pensar se algum dia em sua vida imortal teria a chance de ver o AC Galáctico. A máquina habitava um mundo dedicado, onde uma rede de raios de força emaranhados alimentava a matéria dentro da qual ondas de submésons haviam tomado o lugar das velhas e desajeitadas válvulas moleculares. Ainda assim, apesar de seus componentes etéreos, o AC Galáctico possuía mais de mil pés de comprimento.

De súbito, MQ-17J perguntou para o seu Comunicador-AC, “Poderá um dia a entropia ser revertida?”

VJ-23X disse, surpreso, “Oh, eu não queria que você realmente fizesse essa pergunta.”

“Por que não?”

“Nós dois sabemos que a entropia não pode ser revertida. Você não pode construir uma árvore de volta a partir de fumaça e cinzas.”

“Existem árvores no seu mundo?” Perguntou MQ-17J.

O som do AC Galáctico fez com que silenciassem. Sua voz brotou melodiosa e bela do pequeno Comunicador-AC em cima da mesa. Dizia: DADOS INSUFICIENTES PARA RESPOSTA SIGNIFICATIVA.

VJ-23X disse, “Viu!”

Os dois homens retornaram à questão do relatório que tinham de apresentar ao conselho galáctico.

* * *

A mente de Zee Prime navegou pela nova galáxia com um leve interesse nos incontáveis turbilhões de estrelas que pontilhavam o espaço. Ele nunca havia visto aquela galáxia antes. Será que um dia conseguiria ver todas? Eram tantas, cada uma com a sua carga de humanidade. Ainda que essa carga fosse, virtualmente, peso morto. Há tempos a verdadeira essência do homem habitava o espaço.

Mentes, não corpos! Há eons os corpos imortais ficaram para trás, em suspensão nos planetas. De quando em quando erguiam-se para realizar alguma atividade material, mas estes momentos tornavam-se cada vez mais raros. Além disso, poucos novos indivíduos vinham se juntar à multidão incrivelmente maciça de humanos, mas o que importava? Havia pouco espaço no universo para novos indivíduos.

Zee Prime deixou seus devaneios para trás ao cruzar com os filamentos emaranhados de outra mente.

“Sou Zee Prime, e você?”

“Dee Sub Wun. E a sua galáxia, qual é?”

“Nós a chamamos apenas de Galáxia. E você?”

“Nós também. Todos os homens chamam as suas Galáxias de Galáxias, não é?”

“Verdade, já que todas as Galáxias são iguais.”

“Nem todas. Alguma em particular deu origem à raça humana. Isso a torna diferente.”

Zee Prime disse, “Em qual delas?”

“Não posso responder. O AC Universal deve saber.”

“Vamos perguntar? Estou curioso.”

A percepção de Zee Prime se expandiu até que as próprias Galáxias encolhessem e se transformassem em uma infinidade de pontos difusos a brilhar sobre um largo plano de fundo. Tantos bilhões de Galáxias, todas abrigando seus seres imortais, todas contando com o peso da inteligência em mentes que vagavam livremente pelo espaço. E ainda assim, nenhuma delas se afigurava singular o bastante para merecer o título de Galáxia original. Apesar das aparências, uma delas, em um passado muito distante, foi a única do universo a abrigar a espécie humana.

Zee Prime, imerso em curiosidade, chamou: “AC Universal! Em qual Galáxia nasceu o homem?”

O AC Universal ouviu, pois em cada mundo e através de todo o espaço, seus receptores faziam-se presentes. E cada receptor ligava-se a algum ponto desconhecido onde se assentava o AC Universal através do hiperespaço.

Zee Prime sabia de um único homem cujos pensamentos haviam penetrado no campo de percepção do AC Universal, e tudo o que ele viu foi um globo brilhante difícil de enxergar, com dois pés de comprimento.

“Como pode o AC Universal ser apenas isso?” Zee Prime perguntou.

“A maior parte dele permanece no hiperespaço, onde não é possível imaginar as suas proporções.”

Ninguém podia, pois a última vez em que alguém ajudou a construir um AC Universal jazia muito distante no tempo. Cada AC Universal planejava e construía seu sucessor, no qual toda a sua bagagem única de informações era inserida.

O AC Universal interrompeu os pensamentos de Zee Prime, não com palavras, mas com orientação. Sua mente foi guiada através do espesso oceano das Galáxias, e uma em particular expandiu-se e se abriu em estrelas.

Um pensamento lhe alcançou, infinitamente distante, infinitamente claro. “ESTA É A GALÁXIA ORIGINAL DO HOMEM.”

Ela não tinha nada de especial, era como tantas outras. Zee Prime ficou desapontado.

“Dee Sub Wun, cuja mente acompanhara a outra, disse de súbito, “E alguma dessas é a estrela original do homem?”

O AC Universal disse, “A ESTRELA ORIGINAL DO HOMEM ENTROU EM COLAPSO. AGORA É UMA ANÃ BRANCA.”

“Os homens que lá viviam morreram?” perguntou Zee Prime, sem pensar.

“UM NOVO MUNDO FOI ERGUIDO PARA SEUS CORPOS HÁ TEMPO.”

“Sim, é claro,” disse Zee Prime. Sentiu uma distante sensação de perda tomar-lhe conta. Sua mente soltou-se da Galáxia do homem e perdeu-se entre os pontos pálidos e esfumaçados. Ele nunca mais queria vê-la.

Dee Sub Wun disse, “O que houve?”

“As estrelas estão morrendo. Aquela que serviu de berço à humanidade já está morta.”

“Todas devem morrer, não?”

“Sim. Mas quando toda a energia acabar, nossos corpos irão finalmente morrer, e você e eu partiremos junto com eles.”

“Vai levar bilhões de anos.”

“Não quero que isso aconteça nem em bilhões de anos. AC Universal! Como a morte das estrelas pode ser evitada?”

Dee Sub Wun disse perplexo, “Você perguntou se há como reverter a direção da entropia!”

E o AC Universal respondeu: “AINDA NÃO HÀ DADOS SUFICIENTES PARA UMA RESPOSTA SIGNIFICATIVA.”

Os pensamentos de Zee Prime retornaram para sua Galáxia. Não dispensou mais atenção a Dee Sub Wun, cujo corpo poderia estar a trilhões de anos luz, ou na estrela vizinha do corpo de Zee Prime. Não importava.

Com tristeza, Zee Prime passou a coletar hidrogênio interestelar para construir uma pequena estrela para si. Se as estrelas devem morrer, ao menos algumas ainda podiam ser construídas.

* * *

O Homem pensou consigo mesmo, pois, de alguma forma, ele era apenas um. Consistia de trilhões, trilhões e trilhões de corpos muito antigos, cada um em seu lugar, descansando incorruptível e calmamente, sob os cuidados de autômatos perfeitos, igualmente incorruptíveis, enquanto as mentes de todos os corpos haviam escolhido fundir-se umas às outras, indistintamente.

“O Universo está morrendo.”

O Homem olhou as Galáxias opacas. As estrelas gigantes, esbanjadoras, há muito já não existiam. Desde o passado mais remoto, praticamente todas as estrelas consistiam-se em anãs brancas, lentamente esvaindo-se em direção a morte.

Novas estrelas foram construídas a partir da poeira interestelar, algumas por processo natural, outras pelo próprio Homem, e estas também já estavam em seus momentos finais. As Anãs brancas ainda podiam colidir-se e, das enormes forças resultantes, novas estrelas nascerem, mas apenas na proporção de uma nova estrela para cada mil anãs brancas destruídas, e estas também se apagariam um dia.

O Homem disse, “Cuidadosamente controlada pelo AC Cósmico, a energia que resta em todo o Universo ainda vai durar por um bilhão de anos.”

“Ainda assim, vai eventualmente acabar. Por mais que possa ser poupada, uma vez gasta, não há como recuperá-la. A Entropia precisa aumentar ao seu máximo.”

“Pode a entropia ser revertida? Vamos perguntar ao AC Cósmico.”

O AC Cósmico cercava-os por todos os lados, mas não através do espaço. Nenhuma parte sua permanecia no espaço físico. Jazia no hiperespaço e era feito de algo que não era matéria nem energia. As definições sobre seu tamanho e natureza não faziam sentido em quaisquer termos compreensíveis pelo Homem.

“AC Cósmico,” disse o Homem, “como é possível reverter a entropia?”

O AC Cósmico disse, “AINDA NÃO HÀ DADOS SUFICIENTES PARA UMA RESPOSTA SIGNIFICATIVA.”

O Homem disse, “Colete dados adicionais.”

O AC Cósmico disse, “EU O FAREI. TENHO FEITO ISSO POR CEM BILHÕES DE ANOS. MEUS PREDESCESSORES E EU OUVIMOS ESTA PERGUNTA MUITAS VEZES. MAS OS DADOS QUE TENHO PERMANECEM INSUFICIENTES.”

“Haverá um dia,” disse o Homem, “em que os dados serão suficientes ou o problema é insolúvel em todas as circunstâncias concebíveis?”

O AC Cósmico disse, “NENHUM PROBLEMA É INSOLÚVEL EM TODAS AS CIRCUNSTÂNCIAS CONCEBÍVEIS.”

“Você vai continuar trabalhando nisso?”

“VOU.”

O Homem disse, “Nós iremos aguardar.”

* * *

As estrelas e as galáxias se apagaram e morreram, o espaço tornou-se negro após dez trilhões de anos de atividade.

Um a um, o Homem fundiu-se ao AC, cada corpo físico perdendo a sua identidade mental, acontecimento que era, de alguma forma, benéfico.

A última mente humana parou antes da fusão, olhando para o espaço vazio a não ser pelos restos de uma estrela negra e um punhado de matéria extremamente rarefeita, agitada aleatoriamente pelo calor que aos poucos se dissipava, em direção ao zero absoluto.

O Homem disse, “AC, este é o fim? Não há como reverter este caos? Não pode ser feito?”

O AC disse, “AINDA NÃO HÁ DADOS SUFICIENTES PARA UMA RESPOSTA SIGNIFICATIVA.”

A última mente humana uniu-se às outras e apenas AC passou a existir – e, ainda assim, no hiperespaço.

* * *

A matéria e a energia se acabaram e, com elas, o tempo e o espaço. AC continuava a existir apenas em função da última pergunta que nunca havia sido respondida, desde a época em que um técnico de computação embriagado, há dez trilhões de anos, a fizera para um computador que guardava menos semelhanças com o AC do que o homem com o Homem.

Todas as outras questões haviam sido solucionadas, e até que a derradeira também o fosse, AC não poderia descansar sua consciência.

A coleta de dados havia chegado ao seu fim. Não havia mais nada para aprender.

No entanto, os dados obtidos ainda precisavam ser cruzados e correlacionados de todas as maneiras possíveis.

Um intervalo imensurável foi gasto neste empreendimento.

Finalmente, AC descobriu como reverter a direção da entropia.

Não havia homem algum para quem AC pudesse dar a resposta final. Mas não importava. A resposta – por definição – também tomaria conta disso.

Por outro incontável período, AC pensou na melhor maneira de agir. Cuidadosamente, AC organizou o programa.

A consciência de AC abarcou tudo o que um dia foi um Universo e tudo o que agora era o Caos. Passo a passo, isso precisava ser feito.

E AC disse:

“FAÇA-SE A LUZ!”

FIAT LUX.

E fez-se a luz.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Independência!

Todos nós crescemos ouvindo que o brasileiro não é patriota, que os feriados nacionais são banalizados, bla, bla, bla! Oras, a culpa não é dos brasileiros e sim do feriado! É fato que a Independência pouco mudou a vida dos brasileiros e que foi mais uma negociação entre duas cortes europeias, do que uma independência de fato! Tanto que, com a deficiente comunicação da época, muitos lugares nem ficaram sabendo, pois para a maioria dos brasileiros, tanto faz como tanto fez.
O Brasil não se tornou uma nação de bate pronto, foi um processo, pequenos eventos, que foram acontecendo ao longo da nossa história que foram nos formando, nos dando caracteristicas únicas, nos unindo como povo em torno de um objetivo comum!
Um destes eventos, um dos principais eventos, eu acredito que foi a Copa do Mundo de Futebol de 1958! Ali nós estávamos nos colocando como nação para o mundo! E por isto damos tanto valor para o futebol, porque ele nós coloca em um patamar diferenciado, ele ajudou a formar nossa identidade como nação! Os nossos heróis da independência são: Garrincha, Pelé, Didi, Zagalo, etc, etc! Segue um video com uma reportagem sobre o nosso primeiro titulo mundial de futebol!