sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Old Boy

       Conversando sobre filmes que possuem uma certa linha em comum muito peculiar, a conversa caiu em Old Boy, filme sul-coreano de 2003, e as exclamações foram: "Putz! Este filme é foda!". De imediato eu senti vontade de catalogar ele aqui!
       O filme traz uma atmosfera e uma linguagem de mangá, para tratar de temas humanos como tratavam os gregos em seus clássicos! É um destes filmes que faz você pensar: "que porra é esta?" assim que você termina. Te deixa pensando sobre a fotografia, as cenas em plano-sequência, a história e principalmente te deixa desesperado pra encontrar alguém que tenha assistido!
        Além disto, também fiquei me remoendo por não ter lembrado dele quando escrevi sobre A Pele Em Que Habito.


quinta-feira, 29 de novembro de 2012

we will wait


no help for that 
(you get so alone at times that it just makes sense - 1986)
.bukowski.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Karma

    A cantora e compositora Dory Previn teve seu marido roubado pela bela, pálida e jovem atriz de 24 anos chamada Mia Farrow! Bom, a Dory compôs esta música melancolicamente fodástica e muito tempo depois, a não tão jovem mas ainda pálida e bela Mia Farrow também perdeu seu marido, o nada belo e nada jovem cineasta Woody Allen, para sua filha adotiva Soon-Yi Previn.
    Pois é...  o que sera que a Mia Farrow pensou quando encontrou as fotos de sua filha adotiva de 15 anos pelada nas gavetas do maridão? O que eu penso é que, quando menos se espera o Karma aparece com um soco no estomago e retoma a força o equilibrio nas relações humanas!


terça-feira, 30 de outubro de 2012

Meu filho, você não merece nada.

Meu filho, você não merece nada. - Eliane Brum - Época

Ao conviver com os bem mais jovens, com aqueles que se tornaram adultos há pouco e com aqueles que estão tateando para virar gente grande, percebo que estamos diante da geração mais preparada – e, ao mesmo tempo, da mais despreparada. Preparada do ponto de vista das habilidades, despreparada porque não sabe lidar com frustrações. Preparada porque é capaz de usar as ferramentas da tecnologia, despreparada porque despreza o esforço. Preparada porque conhece o mundo em viagens protegidas, despreparada porque desconhece a fragilidade da matéria da vida. E por tudo isso sofre, sofre muito, porque foi ensinada a acreditar que nasceu com o patrimônio da felicidade. E não foi ensinada a criar a partir da dor.

Há uma geração de classe média que estudou em bons colégios, é fluente em outras línguas, viajou para o exterior e teve acesso à cultura e à tecnologia. Uma geração que teve muito mais do que seus pais. Ao mesmo tempo, cresceu com a ilusão de que a vida é fácil. Ou que já nascem prontos – bastaria apenas que o mundo reconhecesse a sua genialidade.

Tenho me deparado com jovens que esperam ter no mercado de trabalho uma continuação de suas casas – onde o chefe seria um pai ou uma mãe complacente, que tudo concede. Foram ensinados a pensar que merecem, seja lá o que for que queiram. E quando isso não acontece – porque obviamente não acontece – sentem-se traídos, revoltam-se com a “injustiça” e boa parte se emburra e desiste.

Como esses estreantes na vida adulta foram crianças e adolescentes que ganharam tudo, sem ter de lutar por quase nada de relevante, desconhecem que a vida é construção – e para conquistar um espaço no mundo é preciso ralar muito. Com ética e honestidade – e não a cotoveladas ou aos gritos. Como seus pais não conseguiram dizer, é o mundo que anuncia a eles uma nova não lá muito animadora: viver é para os insistentes.

Por que boa parte dessa nova geração é assim? Penso que este é um questionamento importante para quem está educando uma criança ou um adolescente hoje. Nossa época tem sido marcada pela ilusão de que a felicidade é uma espécie de direito. E tenho testemunhado a angústia de muitos pais para garantir que os filhos sejam “felizes”. Pais que fazem malabarismos para dar tudo aos filhos e protegê-los de todos os perrengues – sem esperar nenhuma responsabilização nem reciprocidade.

É como se os filhos nascessem e imediatamente os pais já se tornassem devedores. Para estes, frustrar os filhos é sinônimo de fracasso pessoal. Mas é possível uma vida sem frustrações? Não é importante que os filhos compreendam como parte do processo educativo duas premissas básicas do viver, a frustração e o esforço? Ou a falta e a busca, duas faces de um mesmo movimento? Existe alguém que viva sem se confrontar dia após dia com os limites tanto de sua condição humana como de suas capacidades individuais?

Nossa classe média parece desprezar o esforço. Prefere a genialidade. O valor está no dom, naquilo que já nasce pronto. Dizer que “fulano é esforçado” é quase uma ofensa. Ter de dar duro para conquistar algo parece já vir assinalado com o carimbo de perdedor. Bacana é o cara que não estudou, passou a noite na balada e foi aprovado no vestibular de Medicina. Este atesta a excelência dos genes de seus pais. Esforçar-se é, no máximo, coisa para os filhos da classe C, que ainda precisam assegurar seu lugar no país.

Da mesma forma que supostamente seria possível construir um lugar sem esforço, existe a crença não menos fantasiosa de que é possível viver sem sofrer. De que as dores inerentes a toda vida são uma anomalia e, como percebo em muitos jovens, uma espécie de traição ao futuro que deveria estar garantido. Pais e filhos têm pagado caro pela crença de que a felicidade é um direito. E a frustração um fracasso. Talvez aí esteja uma pista para compreender a geração do “eu mereço”.

Basta andar por esse mundo para testemunhar o rosto de espanto e de mágoa de jovens ao descobrir que a vida não é como os pais tinham lhes prometido. Expressão que logo muda para o emburramento. E o pior é que sofrem terrivelmente. Porque possuem muitas habilidades e ferramentas, mas não têm o menor preparo para lidar com a dor e as decepções. Nem imaginam que viver é também ter de aceitar limitações – e que ninguém, por mais brilhante que seja, consegue tudo o que quer.

A questão, como poderia formular o filósofo Garrincha, é: “Estes pais e estes filhos combinaram com a vida que seria fácil”? É no passar dos dias que a conta não fecha e o projeto construído sobre fumaça desaparece deixando nenhum chão. Ninguém descobre que viver é complicado quando cresce ou deveria crescer – este momento é apenas quando a condição humana, frágil e falha, começa a se explicitar no confronto com os muros da realidade. Desde sempre sofremos. E mais vamos sofrer se não temos espaço nem mesmo para falar da tristeza e da confusão.

Me parece que é isso que tem acontecido em muitas famílias por aí: se a felicidade é um imperativo, o item principal do pacote completo que os pais supostamente teriam de garantir aos filhos para serem considerados bem sucedidos, como falar de dor, de medo e da sensação de se sentir desencaixado? Não há espaço para nada que seja da vida, que pertença aos espasmos de crescer duvidando de seu lugar no mundo, porque isso seria um reconhecimento da falência do projeto familiar construído sobre a ilusão da felicidade e da completude.

Quando o que não pode ser dito vira sintoma – já que ninguém está disposto a escutar, porque escutar significaria rever escolhas e reconhecer equívocos – o mais fácil é calar. E não por acaso se cala com medicamentos e cada vez mais cedo o desconforto de crianças que não se comportam segundo o manual. Assim, a família pode tocar o cotidiano sem que ninguém precise olhar de verdade para ninguém dentro de casa.

Se os filhos têm o direito de ser felizes simplesmente porque existem – e aos pais caberia garantir esse direito – que tipo de relação pais e filhos podem ter? Como seria possível estabelecer um vínculo genuíno se o sofrimento, o medo e as dúvidas estão previamente fora dele? Se a relação está construída sobre uma ilusão, só é possível fingir.

Aos filhos cabe fingir felicidade – e, como não conseguem, passam a exigir cada vez mais de tudo, especialmente coisas materiais, já que estas são as mais fáceis de alcançar – e aos pais cabe fingir ter a possibilidade de garantir a felicidade, o que sabem intimamente que é uma mentira porque a sentem na própria pele dia após dia. É pelos objetos de consumo que a novela familiar tem se desenrolado, onde os pais fazem de conta que dão o que ninguém pode dar, e os filhos simulam receber o que só eles podem buscar. E por isso logo é preciso criar uma nova demanda para manter o jogo funcionando.

O resultado disso é pais e filhos angustiados, que vão conviver uma vida inteira, mas se desconhecem. E, portanto, estão perdendo uma grande chance. Todos sofrem muito nesse teatro de desencontros anunciados. E mais sofrem porque precisam fingir que existe uma vida em que se pode tudo. E acreditar que se pode tudo é o atalho mais rápido para alcançar não a frustração que move, mas aquela que paralisa.

Quando converso com esses jovens no parapeito da vida adulta, com suas imensas possibilidades e riscos tão grandiosos quanto, percebo que precisam muito de realidade. Com tudo o que a realidade é. Sim, assumir a narrativa da própria vida é para quem tem coragem. Não é complicado porque você vai ter competidores com habilidades iguais ou superiores a sua, mas porque se tornar aquilo que se é, buscar a própria voz, é escolher um percurso pontilhado de desvios e sem nenhuma certeza de chegada. É viver com dúvidas e ter de responder pelas próprias escolhas. Mas é nesse movimento que a gente vira gente grande.

Seria muito bacana que os pais de hoje entendessem que tão importante quanto uma boa escola ou um curso de línguas ou um Ipad é dizer de vez em quando: “Te vira, meu filho. Você sempre poderá contar comigo, mas essa briga é tua”. Assim como sentar para jantar e falar da vida como ela é: “Olha, meu dia foi difícil” ou “Estou com dúvidas, estou com medo, estou confuso” ou “Não sei o que fazer, mas estou tentando descobrir”. Porque fingir que está tudo bem e que tudo pode significa dizer ao seu filho que você não confia nele nem o respeita, já que o trata como um imbecil, incapaz de compreender a matéria da existência. É tão ruim quanto ligar a TV em volume alto o suficiente para que nada que ameace o frágil equilíbrio doméstico possa ser dito.

Agora, se os pais mentiram que a felicidade é um direito e seu filho merece tudo simplesmente por existir, paciência. De nada vai adiantar choramingar ou emburrar ao descobrir que vai ter de conquistar seu espaço no mundo sem nenhuma garantia. O melhor a fazer é ter a coragem de escolher. Seja a escolha de lutar pelo seu desejo – ou para descobri-lo –, seja a de abrir mão dele. E não culpar ninguém porque eventualmente não deu certo, porque com certeza vai dar errado muitas vezes. Ou transferir para o outro a responsabilidade pela sua desistência.

Crescer é compreender que o fato de a vida ser falta não a torna menor. Sim, a vida é insuficiente. Mas é o que temos. E é melhor não perder tempo se sentindo injustiçado porque um dia ela acaba.



quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Democracia, e dai?

                Ideologismo e partidarismos à parte, o mensalão é escabroso! A alta direção de um partido, ao entrar no poder, encontra um esquema de compra de apoio político e a partir daí, institucionaliza o tal esquema para exercer o comando do país sem passar pelos trâmites burocráticos da democracia estabelecida. Em outras palavras, o mensalão foi uma tentativa de golpe de estado. O Partido dos Trabalhadores iria dominar a política nacional, transformando o processo político democrático em monopartidário e mono-ideológico. 
                Ora, em uma sociedade que preza os valores da democracia, tal comportamento seria execrável e seria exemplarmente punido. Talvez não institucionalmente, devido às amarras do jogo político, mas certamente pela população através do voto.
                Foi o que se viu, por exemplo, nos Estados Unidos no escândalo do Watergate. Em uma situação muito menos agressiva ao estado democrático de direito, o popular e republicano presidente Richard Nixon foi obrigado a renunciar devido às escutas telefônicas colocadas pelo serviço secreto na sede do partido Democrata. E na sequência, uma derrota republicana com a eleição para presidente do democrata Jimmy Carter! Isto mostra quão caras são para os americanos as instituições democráticas.
                Em contra partida, no Brasil, um escândalo de proporções inimagináveis, se comparado ao Watergate, passa quase incólume pelo processo democrático brasileiro, que não só reelegeu o presidente Lula, como elegeu também a afilhada política do ex-presidente, a atual presidente Dilma Rousseff. E mais ainda, elegeu, ou vai eleger, representantes ou apoiadores do Partido dos Trabalhadores em cidades estratégicas como Rio de Janeiro, São Paulo e em menores proporções (em importância estratégica) Curitiba. 
                A eleição, além da escolha de seus representantes, é também um recado da população aos seus políticos: “Olha, elegemos o Tiririca, porque não temos qualquer tipo de respeito ao congresso nacional.” , “Olha, elegemos o cacareco, porque não acreditamos no processo eleitoral” ou “Olha Srs. Militares, a retumbante vitória dos candidatos MDBistas se deu porque estamos cansados do regime corrupto e ditatorial que nos foi imposto”.  Pois bem, que tipo de recado os analistas políticos devem interpretar com o aparente crescimento e importância do Partido dos Trabalhadores em todas as esferas políticas? 
                A meu ver, o recado é: Não estamos nenhum um pouco preocupados com as normas, as instituições e da democracia como um todo. Façam o que quiserem com o estado social de direito brasileiro, corrompam a oposição, acabem com a imprensa livre, estatizem a economia, partidarizem as estatais, politizem a economia, favoreçam este ou aquele empresário, façam da verba publica, uma verba partidária, desde que garantam o crescimento econômico, os empregos e o consumo.
                Talvez os brasileiros, com uma PIB per capita próxima ao do Butão, estejam, justificadamente,  mais preocupados em subsistir  em meio á nossa desigual, pobre, cara e violenta sociedade, do que com esta discussão intelectualóide-burguesa de democracia e estado de direito.  O meu medo, porém, é de que não exista sociedade menos desigual, mais justa e menos violenta, sem primeiro incutirmos nela tais valores que hoje são tão menosprezados. 

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

everything we said it wasn’t


love is a light at
night running through the fog

love is a beercap
stepped on while on the way
to the bathroom

love is the lost key to your door
when you’re drunk

love is what happens
one year in ten

love is a crushed cat

love is the old newsboy on the
corner who has
given it up

love is what you think the other
person has destroyed

love is what vanished with the
age of battleships

love is the phone ringing,
the same voice or another
voice but never the right
voice

love is betrayal
love is the burning of the
homeless in an alley

love is steel
love is the cockroach
love is a mailbox

love is rain upon the roof
of an old hotel
in
Los Angeles

love is your father in a coffin
(who hated you)

love is a horse with a broken
leg
trying to stand
while 45,000 people
watch

love is the way we boil
like the lobster

love is everything we said
it wasn’t

love is the flea you can’t
find

and love is a mosquito

love is 50 grenadiers

love is an empty
bedpan

love is a riot in San Quentin
love is a madhouse
love is a donkey standing in a
street of flies

love is an empty barstool

love is a film of the Hindenburg
curling to pieces
a moment that still screams

love is Dostoyevsky at the
roulette wheel

love is what crawls along
the ground

love is your woman dancing
pressed against a stranger

love is an old woman
stealing a loaf of
bread

and love is a word used
too much and
much
too soon

 .
 a definition, bukowski.
{the night torn mad with footsteps: new poems :: 2001}

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Ornette

            Eu daria um rim por uma boa praia, finger food´s e bebidinhas geladas!


sábado, 13 de outubro de 2012

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Só mais um Cazuza

Quantos sentimentos e lembranças existem nesta troca de olhar?

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

O Sr. das Moscas

   

                                                
     "Não há nenhum adulto aqui?"  Esta constatação permeia a historia do bando de garotos abandonados em uma ilha, após uma fracassada fuga de um possível (imaginário?) ataque nuclear à  sua cidade natal.
     Na tentativa de criar sua própria sociedade, moldada na torpe imagem que possuíam do sistema, as crianças deixam transparecer a vocação do espirito humano livre!
     O autor, William Golding, que lutou na Marinha Britânica a II Guerra Mundial, usa esta alegoria, narrada com um ritmo alucinante do começo ao fim, para demonstrar todo seu otimismo no movimento humanista: "Qualquer pessoa que tenha passado por esses acontecimentos terríveis sem entender que o homem produz o mal como abelha produz o mel estava cega ou louca" !
      É o tipo de livro que faz você se arrepender por não ter lido antes!
   
   


quarta-feira, 29 de agosto de 2012

The Tao of Sufi

"The world is an illusion; it has no real existence...For you just imagine that it (I.e., the world) is an autonomous reality quite different from and independent of the absolute Reality, while in truth it is nothing of the sort...Know that you yourself are an imagination. And everything that you perceive and say to yourself, “this is not me”, is also an imagination. So that the whole world of existence is imagination within imagination." (Toshihiko Izutsu)

sexta-feira, 20 de julho de 2012

O dia do...

      Um dia para celebrar a amizade? Isto parece tão cretino e cafona quanto qualquer outra data comemorativa... eu me peguei escrevendo um post, até certo ponto sensível (até tinha uma citação coerente do maravilhoso filme Conta Comigo) sobre os meus amigos... Mas o fato é que, como acontece em todas as outras relações humanas, minimizar o seu significado com frases rasas, só demonstra a superficialidade estúpida com que a maioria de nós trata uns aos outros!
       Ninguém tem amigos porque é divertido! É algo muito acima disto. O ser humano é um animal que vive em grupos, nós somos um ser politico! Muito embora passemos a maior parte do tempo tentando parecer auto suficientes, repelindo nossos iguais com atitudes mesquinhas, egoístas e desproporcionalmente violentas, nós precisamos de contato humano... nós desesperadamente precisamos fazer parte de algo maior que nossa irrelevante existência!
       Enfim, nesses dias malucos que temos vivido, onde existem tantas confusões sobre individuo e sociedade e sobre limites e liberdades, ter um grupo de amigos, compartilhando as nossas vidas de forma leal, é um ato de humildade! É um ato de resignação perante a ineficiência solitária do Ego! É aceitar as fraquezas do nosso gênero para que possamos nos fortalecer como espécie: a amizade é um ato de sobrevivência!

domingo, 8 de julho de 2012

terça-feira, 26 de junho de 2012

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Um Lugar Para Viver

O bom de estar duro e de férias são a quantidade de filmes que você jamais assistiria se todas as férias você estivesse em Cancun ou na Riviera Francesa! Estando sem grana e de férias eu assisti um filme muito legal: Um Lugar Para Viver (Away We Go)! É um destes filmes alternativos que são dificeis de torcer o nariz: atores legais dando uma força fazendo pontas, roteiro engraçadinho e trilha sonora caprichada! Vem na mesma linha de Juno, A Lula e a Baleia e Pequena Miss Sunshine! O filme tem um humor de casal e atinge até uma certa profundidade em alguns dialogos interessantes! Vale a pena quando você estiver na pindaiba ou de cama!

 

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Yusuf Islam (Cat Stevens)

       Gosto da poesia e gosto da melodia! É uma pena que a conversão para o Islamismo foi acompanhada de um recolhimento artístico!



         Belíssima canção! Uma das minhas favoritas!

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Otimismo!

 - Deixa comigo companheiro!
 - Não, não... ta tudo tranquilo (respondo para um senhor que tenta me ajudar de forma atabalhoada)
 - Oh guri... Se ajudando uns aos outros já é difícil, sem ajuda aí não temos salvação mesmo! Tamo danado de vez!
 - Bom... obrigado... (enquanto penso: "taí uma verdade boa de se escutar!)
 - Fica com Deus guri!

terça-feira, 22 de maio de 2012

tudo em tempo

devagar, o tempo transforma tudo em tempo.
o ódio transforma-se em tempo, o amor
transforma-se em tempo, a dor transforma-se
em tempo.

os assuntos que julgámos mais profundos,
mais impossíveis, mais permanentes e imutáveis,
transformam-se devagar em tempo.

por si só, o tempo não é nada.
a idade de nada é nada.
a eternidade não existe.
no entanto, a eternidade existe.

os instantes dos teus olhos parados sobre mim eram eternos.
os instantes do teu sorriso eram eternos.
os instantes do teu corpo de luz eram eternos.

foste eterna até ao fim. 

{josé luís peixoto}

quinta-feira, 17 de maio de 2012

O sistema é mau, mas minha turma é legal!

   O protesto estava marcado para as 9:00 da manhã, em plena boca-maldita (reduto dos insatisfeitos de Curitiba), no dia 21 de Abril: um maldito Sábado. O mote do protesto eram o descaso dos políticos com a corrupção e o desvio de prioridades da gestão do bem público.
   Coloco o despertador para as 08:30, que infalivelmente funciona, e já no primeiro minuto do dia coloco em cheque meu engajamento: "porra,  ta frio, ta chovendo, não vai ter ninguém la...  foda... "  São os primeiros pensamentos da manhã... seguidos por: "você combinou com seus amigos, vá!"
   Saio da cama e em 10 minutos, sem café e sem vontade, estou entrando no ônibus rumo a aglomeração! Ponto de ônibus vazio, ônibus vazio e estomago vazio! Onde estão as hordas de insatisfeitos? Cade os revoltosos?  A imagem de meu pai, de pijama antes de dormir, me vem a cabeça: "o Brasil não tem maturidade... "
   Troco de ônibus e vejo algumas pessoas bem novas, em torno de 18 anos, segurando cartazes e penso: "meus companheiros!! que emoção!". Timidamente pergunto se estão indo para "O dia do Basta!" e mais timidamente eles respondem que sim!
   Descemos juntos na Praça Osório e aproveito para tirar uma foto destes três valorosos jovens brasileiros! Vamos andando até a Boca Maldita onde 500 pessoas se acotovelam para ouvir o Megafone chinês que expele palavras de ordem.
   Vou ao ponto de encontro combinado na véspera, para encontrar meus amigos! Ninguém apareceu... ainda! Aos poucos, vão me ligando e vão me encontrando ao longo do belo calçadão da XV. Não sem antes comprarem café, cigarros, cerveja e reclamarem do frio... Para minha surpresa, até minha mãe e meu irmão caçula, que não saem da cama antes do meio-dia por nada, se juntaram a jocosa marcha da corrupção curitibana. A adesão é baixíssima e merecemos a atenção proporcional à nossa mediocridade: notas de roda-pé em alguns meios de comunicação.
   A minha opinião é que: o Brasil 10 anos atrás era um lixo, a 20 anos atrás era, nas palavras do economista Mendonça de Barros: "o cocô do cavalo do bandido", e hoje ele esta só ruim, de modo que para as pessoas é algo excelente!
   Apesar de tudo, vou pra casa feliz: não moro no país ideal, mas tenho os melhores amigos, que me acompanham nas maiores furadas!





quarta-feira, 9 de maio de 2012

Hiper Realismo!

    Apesar de não ser muito ligado em artes plásticas, sempre gostei das imagens das telas do Caravaggio e do Velasquez... principalmente as mais realistas! Eis que começo a ver uns quadros impressionantes, apesar de um tanto quanto parnasianos, do chamado hiper realismo! Quadros que parecem fotos de tão realistas! E por acaso descobri e gostei muito da Lee Price! Hiper realismo com comida e nudez feminina questionando nossa solidão neste mundão de Deus! : P
     
retirado do site da artista: http://www.leepricestudio.com/

segunda-feira, 7 de maio de 2012

O jardim


Se algum dia encontrasses Deus e o desafiasses a se explicar, talvez ele dissesse : "Na verdade sou Bom e Mau, sou Cristo e sou o Diabo, estou dormindo e estou desperto, amo deixar o acaso inserir-se mas quando percebo que posso perder o controle às vezes intervenho para manter o jogo funcionando... Amo criar e é por essa razão que às vezes eu amo e à vezes tenho ciúmes das pessoas criativas, pois elas descobriram meu segredo... de que Todos Nós somos Deuses, de que eu apenas cheguei aqui antes de ti nesse Sistema Solar específico, e de que acima de mim e mais antigos do que mim estão outros Deuses mais poderosos, e assim sucessivamente para cima, indefinidamente. De que a vida é um fenômeno fractal. E de que por vezes fico muito, muito entediado..."
E ele terminaria sussurrando a ti : "Sabias que na verdade não houve Criação ? Tudo tem sido assim desde que nós Deuses conseguimos nos lembrar... tentamos perguntar a nossos irmãos mais antigos e nunca conseguimos chegar a um primeiro criador original... é muito estranho... Alguns de nossos deuses mais jovens sentiram ansiedade com isso, mas eventualmente a deixaram partir..." 

via O Jardim Hermético.

domingo, 29 de abril de 2012

às moscas

Construímos sonhos de autorrealização profissional, afetiva e material. A expectativa com nossa própria grandeza ocupa grande parte de nossos devaneios. O sentimento da fragilidade do mundo sempre me perseguiu desde a infância. Se os psicanalistas estiverem certos, e tudo que é primitivo é indelével, esse sentimento constitui minha substância mais íntima. Que inveja eu tenho das moscas! Livres, voando pelo mundo, sem saber de si mesmas. (Pondé)

We are your friends

quarta-feira, 11 de abril de 2012

O dia do Basta!

O QUINTO DOS INFERNOS

Durante o Séc.XVIII, o Brasil Colônia pagava um alto tributo para seu colonizador, Portugal. Esse tributo incidia sobre tudo que fosse produzido e correspondia a 20% (ou seja,1/5) da produção e recaía, principalmente, sobre a nossa produção de ouro.O ¨Quinto¨era tão odiado pelos brasileiros que, quando se referiam a ele, diziam: O Quinto dos Infernos. Hoje estamos próximos de pagar 2/5.

Uauuu... e lá vamos nós, tem a turma que reclama, a que fala mal do governo, e os que falam mal da sociedade, ¨cada povo tem o governo que merece, a sociedade é que não sabe votar¨ a próposito, quem fala mal da sociedade ou esta a falar mal de si mesmo, ou esta se excluindo e falando mal de nós.

Humm.... Tá... e daí ?

Daí que, olha a oportunidade de fazer alguma coisa. Eu que sou sózinha, uma no meio de 190 milhões de brasileiros, posso somar com voce, com ele,com ela, e assim deixamos de ser um eu sózinho a falar com as paredes.

Para saber mais: http://www.diadobasta.tk/.

Dia 21 de abril, em Curitiba, na Boca Maldita as 10:00h, acontece uma manifestação pacífica, apartidária, sem filiações com sindicatos ou qualquer outra instituição, o Dia do Basta acontece em todo Brasil.

Reivindicações:

- Voto Aberto no Congresso
- Pelo Fim do Foro Privilegiado
- Corrupção Ser Considerado Crime Hediondo

Na última manifestação que aconteceu em Curitiba, haviam uns míseros gatos pingados que acreditam que uma pequena ação é melhor do que nenhuma, porém, quanto maior a adesão nossa, a sociedade no caso, maior é a legitimidade do movimento, por isso, venho convida-lo a dar corpo ao Dia do Basta, talvez consigamos surtir algum efeito, talvez não, mas tentar é melhor do que nada fazer.

Boca Maldita, dia 21 de Abril, 10:00h.

Sábado, para não atrapalhar o transito por que nosso negócio não é atrapalhar, 21 de abril dia da Inconfidência Mineira. Há sim, foi o dia em que um cara chamado Joaquim José da Silva Xavier revoltou-se com a execução do "derrama" e o domínio português.

Como todo e-mail, óbvio e evidente, vou pedir para você convidar seus amigos, inimigos, gato, cachorro, periquito e papagaio, pode ainda imprimir algumas folhas e entregar para alguém que você não sabe o end. eletrônico, não precisa ser muito, pouco já esta de bom tamanho.

P.S :Ninguém será enforcado por participar do Dia do Basta.


Jacira Fortes Kawakami Tristão



Obs: Jacira é uma senhora que se irritou com as minhas constantes reclamações deste país e vai, apesar de seus afazeres e sua infinita preguiça, participar do dia do basta! E mais do que participar, vai imprimir a mensagem acima e distribuir.

Isto tudo porque além de irritada com minhas reclamações, ela anda mais irritada ainda com a enorme conivência da maioria de nós brasileiros com a baixa produtividade, ineficiência, descaso, desrespeito e desonestidade da sociedade como um todo!

Creio eu que se a minha mãe, com seus mais de 50 anos, que enfrentou com 3 filhos pequenos a década de 80 e a década de 90, não desistiu do país, é porque ele pode ter jeito e pode ficar mais próximo do ideal de sociedade que todos nós, independe de ideais, temos!


quarta-feira, 4 de abril de 2012

Faith In Humanity:Fucking Restored!



Pelo que eu entendi: eles criaram vários feixes de laser´s super-poderosos que combinados em um único ponto, geraram a incrível quantidade de 1,9 (no primeiro tiro) e 2,03 (no segundo tiro) mega-joules! O que os cientistas americanos acreditam ser suficiente para iniciar uma reação de fusão nuclear e resolver todos os problemas do mundo!


Obs: Agradecimentos ao Anderson Nery, quem me deu a pauta!

terça-feira, 27 de março de 2012

Eleições

Existem muitas diferenças entre a cobertura politica nos EUA comparada com o que fazemos aqui! A principal, do meu ponto de vista, é o posicionamento das empresas de notícia!
Enquanto aqui, os editoriais se escondem atrás da falsa premissa de imparcialidade, tirando raras exceções como a Veja, nos EUA a mídia toma partido do seu candidato e expressa suas opiniões de forma objetiva.
Além disto, existe uma abertura maior dos políticos com relação aos ambientes menos hostis da mídia. O ex-candidato a presidência e senador John Kerry produziu um documentário sobre meio-ambiente, o também ex-candidato a presidência e senador John McCain fez uma apresentação hilariante, logo após perder as eleições, no humorístico Saturday Night Live.
Um evento em especifico me chama muita atenção: O jantar da Associação dos Correspondentes da Casa Branca (WHCA)! Alguns presidentes tem aceitado participar do jantar, e aproveitar o ambiente de descontração para um discurso bem menos formal. Um exemplo, foram os stand-up´s proferidos nas duas participações do pres. Obama!
Porém, nenhuma apresentação vai conseguir ser mais engraçada que a do, não tão saudoso, ex-presidente George W. Bush! Uma incrível e surpreendente quebra de paradigma:

sexta-feira, 23 de março de 2012

whatever works


      TABACARIA
    Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo. Janelas do meu quarto, Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é (E se soubessem quem é, o que saberiam?), Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente, Para uma rua inacessível a todos os pensamentos, Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa, Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres, Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens, Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada. Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade. Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer, E não tivesse mais irmandade com as coisas Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada De dentro da minha cabeça, E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida. Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu. Estou hoje dividido entre a lealdade que devo À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora, E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro. Falhei em tudo. Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada. A aprendizagem que me deram, Desci dela pela janela das traseiras da casa. Fui até ao campo com grandes propósitos. Mas lá encontrei só ervas e árvores, E quando havia gente era igual à outra. Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar? Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou? Ser o que penso? Mas penso tanta coisa! E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos! Gênio? Neste momento Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu, E a história não marcará, quem sabe?, nem um, Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras. Não, não creio em mim. Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas! Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo? Não, nem em mim... Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando? Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas - Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -, E quem sabe se realizáveis, Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente? O mundo é para quem nasce para o conquistar E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão. Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez. Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo, Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu. Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda, Ainda que não more nela; Serei sempre o que não nasceu para isso; Serei sempre só o que tinha qualidades; Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta, E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira, E ouviu a voz de Deus num poço tapado. Crer em mim? Não, nem em nada. Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente O seu sol, a sua chava, o vento que me acha o cabelo, E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha. Escravos cardíacos das estrelas, Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama; Mas acordamos e ele é opaco, Levantamo-nos e ele é alheio, Saímos de casa e ele é a terra inteira, Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido. (Come chocolates, pequena; Come chocolates! Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates. Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria. Come, pequena suja, come! Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes! Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho, Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.) Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei A caligrafia rápida destes versos, Pórtico partido para o Impossível. Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas, Nobre ao menos no gesto largo com que atiro A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas, E fico em casa sem camisa. (Tu que consolas, que não existes e por isso consolas, Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva, Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta, Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida, Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua, Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais, Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê - Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire! Meu coração é um balde despejado. Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco A mim mesmo e não encontro nada. Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta. Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam, Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam, Vejo os cães que também existem, E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo, E tudo isto é estrangeiro, como tudo.) Vivi, estudei, amei e até cri, E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu. Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira, E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses (Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso); Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente Fiz de mim o que não soube E o que podia fazer de mim não o fiz. O dominó que vesti era errado. Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me. Quando quis tirar a máscara, Estava pegada à cara. Quando a tirei e me vi ao espelho, Já tinha envelhecido. Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado. Deitei fora a máscara e dormi no vestiário Como um cão tolerado pela gerência Por ser inofensivo E vou escrever esta história para provar que sou sublime. Essência musical dos meus versos inúteis, Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse, E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte, Calcando aos pés a consciência de estar existindo, Como um tapete em que um bêbado tropeça Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada. Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta. Olho-o com o deconforto da cabeça mal voltada E com o desconforto da alma mal-entendendo. Ele morrerá e eu morrerei. Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos. A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também. Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta, E a língua em que foram escritos os versos. Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu. Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas, Sempre uma coisa defronte da outra, Sempre uma coisa tão inútil como a outra, Sempre o impossível tão estúpido como o real, Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície, Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra. Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?) E a realidade plausível cai de repente em cima de mim. Semiergo-me enérgico, convencido, humano, E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário. Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos. Sigo o fumo como uma rota própria, E gozo, num momento sensitivo e competente, A libertação de todas as especulações E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto. Depois deito-me para trás na cadeira E continuo fumando. Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando. (Se eu casasse com a filha da minha lavadeira Talvez fosse feliz.) Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela. O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?). Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica. (O Dono da Tabacaria chegou à porta.) Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me. Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.
    Álvaro de Campos, 15-1-1928

quinta-feira, 22 de março de 2012

assim, simples

saímos juntos do bar. na rua as pessoas ainda se espantavam com Cass. continuava linda, talvez mais do que antes. fomos para o meu endereço. abri uma garrafa de vinho e ficamos batendo papo. entre nós dois a conversa sempre fluía espontânea. ela falava um pouco, eu prestava atenção, e depois chegava a minha vez. nosso diálogo era sempre assim, simples, sem esforço nenhum. parecia que tínhamos segredos em comum. quando se descobria um que valesse a pena, Cass dava aquela risada - da maneira que só ela sabia dar. era como a alegria provocada por uma fogueira. enquanto conversávamos, fomos nos beijando e aproximando cada vez mais.

(...)


naquele dua convidei-a para ir à praia de carro. como estávamos na metade da semana e o verão ainda não havia chegado, encontramos tudo maravilhosamente deserto. ratos de praia, com a roupa em farrapos, dormiam espalhados pelo gramado longe da areia. outros, sentados em bancos de pedra, dividiam uma garrafa de bebida tristonha. gaivotas esvoaçavam no ar, descuidadas e no entanto aturdidas. velhinhas de seus 70 ou 80 anos, lado a lado nos bancos, comentavam a venda de imóveis herdados de maridos mortos há muito tempo, vitimados pelo ritmo e estupidez da sobrevivência. por causa de tudo isso, respirava-se uma atmosfera de paz e ficamos andando, para cima e para baixo, deitando e espreguiçando-nos na relva, sem falar quase nada. com aquela sensação simplesmente gostosa de estar juntos.



a mulher mais linda da cidade, de crônica de um amor louco.
{buk}

domingo, 18 de março de 2012

Universo


"O universo não é uma idéia minha.
A minha idéia do Universo é que é uma idéia minha.
A noite não anoitece pelos meus olhos,
A minha idéia da noite é que anoitece por meus olhos.
Fora de eu pensar e de haver quaisquer pensamentos
A noite anoitece concretamente
E o fulgor das estrelas existe como se tivesse peso."

Fernando Pessoa/Alberto Caeiro

sexta-feira, 2 de março de 2012

bluebird

there's a bluebird in my heart that
wants to get out
but I'm too tough for him,
I say, stay in there, I'm not going
to let anybody see
you.

there's a bluebird in my heart that
wants to get out
but I pour whiskey on him and inhale
cigarette smoke
and the whores and the bartenders
and the grocery clerks
never know that
he's
in there.

(...)

there's a bluebird in my heart that
wants to get out
but I'm too clever, I only let him out
at night sometimes
when everybody's asleep.
I say, I know that you're there,
so don't be
sad.

then I put him back,
but he's singing a little
in there, I haven't quite let him
die.

Buk.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

solidão

deitei na cama, abri a garrafa, dobrei o travesseiro nas costas para ter um bom apoio, respirei fundo e sentei na escuridão olhando a janela. era a primeira vez que eu estava sozinho em cinco dias.
eu era um homem que se fortalecia na solidão; ela era para mim a comida e a água dos outros homens.
cada dia sem solidão me enfraquecia. não que eu me orgulhasse dela, mas dela eu dependia.
a escuridão do quarto era como um dia ensolarado para mim. tomei um gole de vinho.


factótum, p. 32-33.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

o que é uma carta?

Haverá um dia em que minha neta Luiza – que completou um ano no dia 11 passado – sentará a meu lado e me perguntará, como quem consulta um velho alfarrábio:
- Vô, o que é uma carta?
Eu, quem sabe meio esquecido ou confuso, talvez fique pensando a que carta ela estará se referindo. Carta de baralho? Carta náutica? Carta celeste?
- Ah, sim, carta! exclamarei afinal.
E terei uma enorme dificuldade em explicar do que se trata.
Uma carta exigia certa cerimônia, além de data, texto e assinatura. Implicava um tratamento, por exemplo. Uma certa linguagem que, dependendo do destinatário, não poderia ser banal nem usar gírias.
Também não se escrevia carta a qualquer momento. Era preciso criar o momento propício para uma carta. Eu – e direi isto à Luiza – gostava de escrever cartas à noite, depois que as tarefas do dia haviam rendido sua inutilidade, numa escrivaninha junto à janela e fumando alguns cigarros. Parecia romântico e inspirador. Outros preferiam um cálice de conhaque.
O papel devia ser limpo, alvo, imaculado. Qualquer amassado ou rasura e a carta iria pro lixo. Recomeçava-se. Aliás, eram feitas várias versões.
- Isto se chamava “passar a limpo”, Luiza. A gente escrevia e, depois, copiava tudo de novo, com letra melhor, corrigindo os tropeços gramaticais, caprichando na caligrafia.
- Caligrafia, vô?
- Bom, isso eu explico amanhã. Voltemos à carta.
Dependendo de quem fosse o destinatário, da maior ou menor habilidade do remetente, do estado da caneta – aliás, chamadas “canetas tinteiro”; um dia eu explico –, uma carta poderia exigir meia dúzia de versões. A letra, é claro, precisava ser legível, o que seu avô jamais conseguiu, apesar dos esforços que fez.
Era preciso falar do tempo, contar as últimas...
- Que últimas?
- As últimas notícias, Luiza. Não havia jornal das oito. Aliás, não havia televisão.
Aqui Luiza, abismada, abrirá uns olhos enormes, talvez se indagando de onde teria saído aquele avô tão remoto e pré-histórico.
Embaraçado, eu continuaria:
- Bom, depois a gente escrevia a respeito do assunto principal da carta. Começava assim: “o que me leva a escrever...” Quando estudante, eu escrevia a meu pai pedindo um aumento de mesada. Ou escrevia a minha mãe anunciando o dia em que chegaria de viagem, pedindo que me recebesse com uma tainha ao forno. Outros escreviam para discutir problemas familiares, profissionais, contar das últimas namoradas, de um filme lançado aqui em Curitiba e que só chegaria a Blumenau no ano seguinte.
Depois, era só colocar num envelope, selar e levar ao correio.
- Levar ao correio? ela perguntaria. Não é...
- Não. Não é como o e-mail, direi.
- Ah, sei. E por que não escrevia naquela máquina ali?
Luiza apontaria para uma máquina de escrever portável que conservo numa prateleira e na qual datilografei meus primeiros livros.
- Era considerado falta de educação. Carta devia ser manuscrita. Só muito depois é que se começou a aceitar carta datilografada, mas aí eu não era mais adolescente.
E Luiza me olhará com olhos deslumbrados, como se estivesse ouvindo uma história que fosse produto da mais delirante fantasia.
Enfim, precisarei explicar à Luiza que o e-mail – que é tão prático, tão rápido, tão bom – acabou com a mágica das cartas. E ela, menina sensível e imaginativa, ficará maravilhada justamente por conta desta magia perdida. Cartas guardadas, segredos manuscritos, as últimas notícias, confissões íntimas, inquietações da alma. Tudo isto deixará Luiza com a imaginação acesa. E ela entenderá que carta não é um e-mail mais longo. É outra coisa. Assim como um romance não é um conto comprido. É outra coisa. Assim como um amor não é uma atração duradoura. É outra coisa.
E um dia Luiza pegará uma caneta (tinteiro, ainda restará alguma), se sentará numa sala quieta e, sob uma lâmpada pálida, talvez preocupada, talvez com saudades, colocará uma data sobre um papel imaculado e escreverá:
“Querido vovô,”
E descobrirá o que é uma carta.

Luiza me escreve uma carta
Roberto Gomes


Lindo, roubado do blog do Henry Milléo, fotógrafo da Gazeta.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Viagem no tempo





Este Brasil próspero e ufanista que estamos vivendo é fruto de uma virada no cenário econômico internacional: Basicamente a China começou a demandar commodities, o core da economia brasileira, elevando seu preço; na contra-partida, entupiu o mercado de bens tecnológicos, a maior demanda de importações brasileiras, barateando o valor destes à patamares inimagináveis na década de 80 e 90.
Cenários econômicos internacionais extremamente favoráveis para o Brasil não são novidades, experimentamos diversos "boom´s" de crescimento econômico ao longo da nossa história! O mais recente deles, aconteceu no fim da década de 60 e o começo da década de 70! O Brasil aproveitou uma alta de liquidez no mercado internacional para financiar um modelo de crescimento econômico pautado no Estado como principal agente econômico.
Nesta época surgiram os monstros estatais e a estrutura corrupta de favorecimentos políticos a empresas que suportavam um regime mono-ideológico. Surgiram grandes obras públicas, e o crescimento de empreiteiras cujo os proprietários eram do circulo de amizade do governo militar, além de uma intensa propaganda nacionalista, exaltando os feitos do Brasil.
Nesta época o Brasil construiu a maior hidroelétrica do planeta, 2 usinas nucleares, a rodovia transamazônica, foi tri-campeão do mundo e vendia a sensação que finalmente o Brasil estava vingando seu eterno potencial.
O que aconteceu é que, durante o "milagre econômico", o Brasil não dinamizou sua economia, não criou um mercado interno de consumo, o modelo estatal de baixa competitividade e remuneração garantida criou monstros corporativos de corrupção e ineficiência, as industrias nacionais com altas regalias se mostraram pouquíssimo competitivas no mercado internacional. Enquanto o mundo inteiro falava de globalização, exportações e desenvolvimento tecnológico, o Brasil estava ensimesmado em um projeto de desenvolvimento atrasado baseado em conceitos da década de 30!
Quando veio a crise do petróleo, a escassez de crédito e a consequente alta de juros internacionais, o Brasil estava com uma economia ultrapassada, uma divida gigantesca, e uma ré no seu desenvolvimento que durou mais de 1 década.
O que nós estamos fazendo com este novo ciclo de prosperidade? Nós estamos fazendo grandes e ineficientes obras publicas: de 2006 para 2011, subiu de 5 para 11 as construtoras com lucros acima de 1 bilhão de reais, 60% destes ganhos oriundos de projetos estatais, a elaboração de projetos megalomaníacos: 1 copa do mundo e 1 olimpíada em 6 anos. Reduzindo a dinâmica da economia brasileira, favorecimento de empresários com circulação próxima do planalto, uma dominação ideológica, estrutura politica extremamente corrupta.
O Brasil esta vivendo um bom momento? Sim! Mas ainda estamos atrás do Uruguai, do Chile e da Polônia na divisão per-capita do PIB (4 posições a frente do GABÃO!), ainda estamos em franca decadência nos rankings de dinamismo econômico, inovação tecnológica e de competitividade econômica! Ainda temos um dos piores sistemas de ensino, uma das piores distribuições de renda, os maiores juros do mundo, inflação na casa dos 7%, a estrutra politica e o custo de vida mais caros do mundo.
Resumo da ópera, ainda somos pobres, pouco eficientes, ignorantes e pagamos muito caro por isto! O que nós estamos comemorando afinal?
O que todas estas pessoas que estão maravilhadas com o Eike Batista, com o Brasil na 6º posição das maiores economias e todas estas besteiras papagaiadas a torto e direito vão pensar quando houver uma virada no cenário econômico global e nós tivermos que enfrentar, de novo, a década de 80!??!

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

um dia, um gato


once upon a time there was more than wasn't.
to watch the bustle of life is always a musing.
and it is fun when one likes people.
yet, one has to look at things from a proper height.
not too high though like astronauts because of their weight lessness.
they don't even have the time do notice what's really going on.
a humble height and a humble tower in a humble small town will do
and one see tragedies as well as trilogies.
now, i'll have a look what's the day like today at home.


trecho do filme az prijde kocour (ou um dia, um gato), 1963.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Joni Mitchell

Descobri ela dando uma conferida na lista dos 500 melhores albuns da Rolling Stones... O disco em questão era o "blue" com composições folks, muito americanas, sem muitos arranjos pra favorecer a belissima voz da Joni Mitchell ! Eu acho que a musica a seguir é a melhor dentre todas que compunham o LP