quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Democracia, e dai?

                Ideologismo e partidarismos à parte, o mensalão é escabroso! A alta direção de um partido, ao entrar no poder, encontra um esquema de compra de apoio político e a partir daí, institucionaliza o tal esquema para exercer o comando do país sem passar pelos trâmites burocráticos da democracia estabelecida. Em outras palavras, o mensalão foi uma tentativa de golpe de estado. O Partido dos Trabalhadores iria dominar a política nacional, transformando o processo político democrático em monopartidário e mono-ideológico. 
                Ora, em uma sociedade que preza os valores da democracia, tal comportamento seria execrável e seria exemplarmente punido. Talvez não institucionalmente, devido às amarras do jogo político, mas certamente pela população através do voto.
                Foi o que se viu, por exemplo, nos Estados Unidos no escândalo do Watergate. Em uma situação muito menos agressiva ao estado democrático de direito, o popular e republicano presidente Richard Nixon foi obrigado a renunciar devido às escutas telefônicas colocadas pelo serviço secreto na sede do partido Democrata. E na sequência, uma derrota republicana com a eleição para presidente do democrata Jimmy Carter! Isto mostra quão caras são para os americanos as instituições democráticas.
                Em contra partida, no Brasil, um escândalo de proporções inimagináveis, se comparado ao Watergate, passa quase incólume pelo processo democrático brasileiro, que não só reelegeu o presidente Lula, como elegeu também a afilhada política do ex-presidente, a atual presidente Dilma Rousseff. E mais ainda, elegeu, ou vai eleger, representantes ou apoiadores do Partido dos Trabalhadores em cidades estratégicas como Rio de Janeiro, São Paulo e em menores proporções (em importância estratégica) Curitiba. 
                A eleição, além da escolha de seus representantes, é também um recado da população aos seus políticos: “Olha, elegemos o Tiririca, porque não temos qualquer tipo de respeito ao congresso nacional.” , “Olha, elegemos o cacareco, porque não acreditamos no processo eleitoral” ou “Olha Srs. Militares, a retumbante vitória dos candidatos MDBistas se deu porque estamos cansados do regime corrupto e ditatorial que nos foi imposto”.  Pois bem, que tipo de recado os analistas políticos devem interpretar com o aparente crescimento e importância do Partido dos Trabalhadores em todas as esferas políticas? 
                A meu ver, o recado é: Não estamos nenhum um pouco preocupados com as normas, as instituições e da democracia como um todo. Façam o que quiserem com o estado social de direito brasileiro, corrompam a oposição, acabem com a imprensa livre, estatizem a economia, partidarizem as estatais, politizem a economia, favoreçam este ou aquele empresário, façam da verba publica, uma verba partidária, desde que garantam o crescimento econômico, os empregos e o consumo.
                Talvez os brasileiros, com uma PIB per capita próxima ao do Butão, estejam, justificadamente,  mais preocupados em subsistir  em meio á nossa desigual, pobre, cara e violenta sociedade, do que com esta discussão intelectualóide-burguesa de democracia e estado de direito.  O meu medo, porém, é de que não exista sociedade menos desigual, mais justa e menos violenta, sem primeiro incutirmos nela tais valores que hoje são tão menosprezados. 

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