terça-feira, 16 de novembro de 2010

pela metade


Olho pro lado e sinto uma saudade imensa, doída, desesperançada e até cínica. Saudade de alguma coisa ou de alguém, não sei. Talvez de mim, de algum marido fabuloso que eu tive em alguma encarnação, do útero da minha mãe, do meu anjo da guarda que está de férias em Acapulco, do meu avô que embrulhava sempre meu aparelho de dentes em um guardanapo e depois esquecia e jogava no lixo achando que era resto de algum lanchinho, de algum amor verdadeiro, que durou um segundo, de uma cena perfeita que meu inconsciente formou na infância e eu me encarreguei de acreditar como sendo meu futuro.
(...)
Eu invento amor, sim. E dói admitir isso. Mas é que não agüento mais não dar um rosto para a minha saudade. E não agüento mais os copos, as fumaças, os amigos, as intenções e as bolinhas de guardanapo pela metade. É tudo pela metade. Ao menos a minha fantasia é por inteiro. Enquanto dura.


Tati Bernardi -- trecho de Direto do Planeta Solidão, do livro que ganhei do Bernardo em 2008.
A foto é mais uma do FFFFOUND!

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