quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

sempre pleno, jamais saciado

Sentia-me à vontade em tudo, é bem verdade, mas, ao mesmo tempo, nada me satisfazia. Cada alegria fazia com que desejasse outra. Ia de festa em festa. Chegava a dançar noites inteiras, cada vez mais louco com os seres e com a vida. Às vezes, já bastante tarde, nessas noites em que a dança, o álcool leve, meu modo desenfreado, o violento abandono de todos me lançavam a um arrebatamento ao mesmo tempo lasso e pleno, parecia-me no extremo da exaustão e no espaço de um segundo, compreender, enfim, o segredo dos seres e do mundo. Mas o cansaço desaparecia no dia seguinte e com ele o segredo; e eu me lançava outra vez com todo o ímpeto. Assim corria eu, sempre pleno, jamais saciado, sem saber onde parar, até o dia, ou melhor, até a noite em que a música parou e as luzes se apagaram. A festa em que eu fora feliz...

Trecho de A Queda, de Albert Camus - página 25.

5 comentários:

Bernardo Quintão disse...

Muito bom, bastante existencialista. Acho que neste caso, o bom escritor não é aquele que grita, mas o que aceita a condição. Gostei do horário postado hahaha ;D

elisa lopes. disse...

O livro é ótimo. O horário é prova da minha vida desregrada e da minha procrastinação eterna.

Anônimo disse...

Como disse uma conhecida: "Nao procrastinaras deveria ser o 11º mandamento!"

Bernardo Quintão disse...

Japa, qdo escrever anônimo use acentos, disfarça sua persona hahahaha

Caroline Daga disse...

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