
A mesma
história poderia ter sido contada ao presidente Sarkozy, ao presidente Obama e
todos os membros da OTAN, em 2011. Inebriados pelos eventos do que ficou
conhecido como “Primavera Árabe”, enxergaram de forma míope que poderiam
intervir militarmente em prol dos rebeldes que tentavam derrubar o ditador
Sírio, Bashar Al-Assad, nos moldes da operação que resultou na queda e
assassinato do ditador Líbio, Muammar Gaddafi.
À
primeira vista, o vácuo das ditaduras sanguinárias, seria preenchido por
governos democráticos, laicos, pró ocidente, pró capitalismo, que resultariam
em um aumento de liberdades individuais, econômicas, investimento externo e
prosperidade na região. Porém, a realidade é que o ocidente assistiu incrédulo o
surgimento do ISIS.
Os relatórios
de inteligência da CIA e da ONU em 2009 e 2010 retratavam o ISIS como uma
instituição enfraquecida que estava sendo facilmente combatida pelas tropas Iraquianas
com os seus principais líderes capturados ou mortos. Porém, entre 2011 e 2015 o
ISIS se apoderou de metade do território Iraquiano, metade do território Sírio
e possui um exército estimado de mais de 2 milhões de combatentes.
Assim como o Osama Bin Laden, a Al Qaeda e o
Afeganistão pareciam parte da solução em 1979 e se tornaram um enorme problema
cuja a solução ainda consome milhares de dólares todos os anos, a solução teórica
oriunda da queda dos antigos aliados do ocidente Muammar Kaddafi, Mubarak e do
Bashar Al-Assad se tornou na pratica o Estado Islâmico e um Oriente Médio
infinitamente mais complexo, mais violento e mais longe da pacificação e
prosperidade.
![]() |
Homs - terceira maior cidade da Siria, Antes e depois 2011 |
O
tamanho do erro estratégico que a OTAN cometeu pode ser medido analisando a
realidade da Síria antes da “Primavera Árabe” e depois. Em 2010 a Síria possuía
um IDH de 0,662 o que a colocava entre os primeiros países de desenvolvimento
médio, muito próximo de virar um país de alto desenvolvimento, possuía menos de
6% da população abaixo da linha da pobreza e 100% das crianças em idade escolar
matriculadas. Hoje a expectativa é de que o IDH da Síria esteja abaixo dos
0,500 o que a coloca na metade de baixo dos países de baixo desenvolvimento. O
IDH reflete a queda da expectativa de vida, de 74 para 54 anos, o abandono
escolar, com mais de 50% das crianças em idade escolar fora das escolas por no mínimo
3 anos, e uma queda de quase 60% na renda do país, empurrando cerca de 6
milhões de Sírios para abaixo da linha da pobreza.
Mas o
principal dado é que antes da “Primavera Árabe” a Síria possuía um índice negativo
de migração, com mais pessoas indo para a Síria do que saindo do país, e hoje
os Sírios representam a segunda maior população de refugiados no mundo.
Citando
o dramaturgo e ativista político irlandês George Bernard Shaw: “Se a história
se repete e o inesperado sempre acontece, quão incapaz deve ser a humanidade de
aprender através da experiência”.
Referências:
http://www.theguardian.com/sustainable-business/2015/aug/19/syria-refugee-crisis-education-teaching-lost-generation-children
http://www.theguardian.com/world/2015/mar/12/syrias-war-80-in-poverty-life-expectancy-cut-by-20-years-200bn-lost
http://databank.worldbank.org/data/reports.aspx?source=world-development-indicators
http://hdr.undp.org/en/countries/profiles/SYR#
https://en.wikipedia.org/wiki/Afghanistan
https://en.wikipedia.org/wiki/Syria
https://en.wikipedia.org/wiki/Islamic_State_of_Iraq_and_the_Levant#As_Islamic_State.2C_2014.E2.80.93present
https://en.wikipedia.org/wiki/Muammar_Gaddafi#NATO_intervention:_March.E2.80.93August_2011