Devem ser lá umas duas da madrugada e as ruas de Ipanema continuam agitadas em mais uma sexta-feira como muitas outras. Estamos sentados numa mesa à calçada, no Cafézinho, um botequim "pé sujo", como é de praxe para o bom viver de um carioca. Um estudante de cinema, um músico e dois yuppies do mercado financeiro. As camisas abertas no peito e enroladas na manga são consequências do calor abafado que ainda faz. A única solução, óbvia, é continuar a pedir mais loiras geladas pro Maneco.
Maneco não quer saber da gente não. Bando de muleque à toa, mas que no fim das contas pagam o seu salário. Falando em conta, na primeira oportunidade que tem ele fecha a nossa, somando no bloquinho de papel cinza com a caneta que guarda no bolsa da frente da camisa. Claro, não depois de ouvir muita reclamação, e de uma rodada por conta da casa. Maneco já com pressa pega o balde pra lavar a calçada onde estamos sentados. A água corre por debaixo dos nossos pés e me sinto um pouco apóstolo enquanto acabamos a última gelada.
Os assuntos são os costumeiros, e nem um pouco importantes. Alguém defende veementemente que "Guerra do Fogo" é o melhor filme da história... quando ele chega. Sandálias de dedo, camiseta do Vascão e uma samba-canção estampada.
"Porra, tu tá maluco mermão? Sai de casa de samba-canção agora é?" - Alguém já grita enquanto ele ainda atravessa a rua em direção ao buteco.
De lá mesmo ele responde calmamente:
"Mermão. Num fode. Eu tô na minha vizinhança."
3 comentários:
Massa. Isso me dá o direito de passar a ir à feirinha da Ucrânia de regata e sem depilar braço e costas. Tô na minha vizinhança.
Por favor não!
Diodio eu te dou o maior apoio! Só nos avise pra que a gente possa ganhar um troco com a atraçao extraordinaria!
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