terça-feira, 19 de outubro de 2010

fôlego dos românticos


Vinicius de Moraes faria hoje, se vivo, 97 anos.
Estaria ainda um broto.

Copio Manuel Bandeira: Vinicius "tem o fôlego dos românticos, a espiritualidade dos simbolistas, a perícia dos parnasianos (sem refugar, como estes, as sutilezas barrocas) e, finalmente, homem bem do seu tempo, a liberdade, a licença, e esplêndido cinismo dos modernos".

Sou suspeita para falar. Desde o Jardim II, no Bom Jesus da Aldeia, ouvia as palavras do poeta sem nem entender o que era poesia. Quando aprendemos a ler, o ritual antes de todas as aulas era a leitura, em voz alta, de São Francisco.

Lá vai São Francisco
Pelo caminho
De pé descalço
Tão pobrezinho

Soube mais tarde, também, que o Soneto da Fidelidade foi o responsável pelo namoro dos meus pais, aos 15 anos. Minha mãe sempre foi louca por poesia e, para impressioná-la, meu pai decorou e declamou no pátio do prédio. Uma graça!

Não menos importante, mas antes de tudo isso, muitas sonecas foram embaladas por A Casa, no colo da mãe. Minhas e de muita gente.
Era uma casa
Muito engraçada
Não tinha teto
Não tinha nada

Poderia passar tardes e mais tardes, ao sol, colando trechos de Vinicius. Com as palavras dele, também, senti muita tristeza, com Ausência e um namoro abestado.

No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz

Mas termino com uma clássica: Meu tempo é quando.

1 comentários:

Bernardo Quintão disse...

Ainda prefiro:
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure

Mas peguei um pouco de nojinho desde que vi um cara declarando o Soneto inteiro no microfone do Ponto Final esses dias pra mulher dele. Fora que lembra o Netinho:

Que seja eterno enquanto dure esse amor
Que dure para sempre

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