Ideologismo e partidarismos à parte, o mensalão é escabroso!
A alta direção de um partido, ao entrar no poder, encontra um esquema de compra
de apoio político e a partir daí, institucionaliza o tal esquema para exercer o
comando do país sem passar pelos trâmites burocráticos da democracia estabelecida. Em
outras palavras, o mensalão foi uma tentativa de golpe de estado. O Partido dos
Trabalhadores iria dominar a política nacional, transformando o processo político
democrático em monopartidário e mono-ideológico.
Ora, em
uma sociedade que preza os valores da democracia, tal comportamento seria execrável
e seria exemplarmente punido. Talvez não institucionalmente, devido às amarras
do jogo político, mas certamente pela população através do voto.
Foi o
que se viu, por exemplo, nos Estados Unidos no escândalo do Watergate. Em uma
situação muito menos agressiva ao estado democrático de direito, o popular e
republicano presidente Richard Nixon foi obrigado a renunciar devido às escutas
telefônicas colocadas pelo serviço secreto na sede do partido Democrata. E na
sequência, uma derrota republicana com a eleição para presidente do democrata
Jimmy Carter! Isto mostra quão caras são para os americanos as instituições
democráticas.
Em
contra partida, no Brasil, um escândalo de proporções inimagináveis, se
comparado ao Watergate, passa quase incólume pelo processo democrático
brasileiro, que não só reelegeu o presidente Lula, como elegeu também a
afilhada política do ex-presidente, a atual presidente Dilma Rousseff. E mais
ainda, elegeu, ou vai eleger, representantes ou apoiadores do Partido dos Trabalhadores
em cidades estratégicas como Rio de Janeiro, São Paulo e em menores proporções
(em importância estratégica) Curitiba.
A
eleição, além da escolha de seus representantes, é também um recado da
população aos seus políticos: “Olha, elegemos o Tiririca, porque não temos
qualquer tipo de respeito ao congresso nacional.” , “Olha, elegemos o cacareco,
porque não acreditamos no processo eleitoral” ou “Olha Srs. Militares, a
retumbante vitória dos candidatos MDBistas se deu porque estamos cansados do
regime corrupto e ditatorial que nos foi imposto”. Pois bem, que tipo de recado os analistas políticos
devem interpretar com o aparente crescimento e importância do Partido dos
Trabalhadores em todas as esferas políticas?
A meu
ver, o recado é: Não estamos nenhum um pouco preocupados com as normas, as
instituições e da democracia como um todo. Façam o que quiserem com o estado
social de direito brasileiro, corrompam a oposição, acabem com a imprensa livre,
estatizem a economia, partidarizem as estatais, politizem a economia, favoreçam
este ou aquele empresário, façam da verba publica, uma verba partidária, desde
que garantam o crescimento econômico, os empregos e o consumo.
Talvez
os brasileiros, com uma PIB per capita próxima ao do Butão, estejam,
justificadamente, mais preocupados em
subsistir em meio á nossa desigual,
pobre, cara e violenta sociedade, do que com esta discussão intelectualóide-burguesa
de democracia e estado de direito. O meu
medo, porém, é de que não exista sociedade menos desigual, mais justa e menos
violenta, sem primeiro incutirmos nela tais valores que hoje são tão menosprezados.
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