Hoje, antes de ir pra aula, eu fui em uma palestra de lançamento do livro “Fé em Deus e Pé na Tábua” do antropólogo Roberto da Matta.
De acordo com a palestra, o autor defende na obra que o mal comportamento do motorista brasileiro é reflexo da nossa construção torpe como sociedade.
As origens dos índices horríveis e absurdos de mortes, acidentes e atropelamentos no trânsito no Brasil são as mesmas que originam a corrupção, a ineficiência do serviço público, os índices de criminalidade, os abusos de poder, etc, etc, etc: a herança da sociedade hierarquista da coroa portuguesa e a religiosidade.
Enquanto a cultura hierarquista, da qual nós não conseguimos nos libertar, divide a sociedade entre poderosos e não poderosos, onde quem tem mais dinheiro, mais poder, tem menos obrigações e maior acesso à benefícios, a religiosidade permuta a busca por condições melhores de vida para o além, tornando o brasileiro menos combativo com relação as injustiças, etc, etc, etc.
E este é um problema da sociedade brasileira como um todo, porque todos os brasileiros gostam de privilégios, todos os brasileiros detestam igualdade, todos os brasileiros encontrando-se em uma situação de poder, utilizam-no de forma aristocrática, favorecendo os próximos e os interesses próprios. O exemplo que o autor da é o motorista de ônibus, mesmo ele sendo pertencente a mesma classe social da maioria dos cidadãos, estando ele momentaneamente numa condição mais favorável, trata os pedestres, os passageiros e os motoristas em carros menores, de forma violenta, impondo sua condição de superioridade.
Um ponto importante tocado pelo autor, é a discussão de cidadania no Brasil: “no Brasil só se discute cidadania a partir dos direitos e ignoramos as obrigações”! Ninguém quer pagar impostos, ninguém quer dor de cabeça com política, mas todos queremos que os recursos sejam bem gastos, evitando desperdício! Queremos que os nossos governos ajam como os governos suécos, finlandeses e suíços, porém, nós continuamos agindo como brasileiros.
Saí da palestra com a nítida impressão de que não deveria ter ido, pois, apesar de excelente palestrante, o assunto só piorou meu pessimismo com o desenvolvimento do Brasil como sociedade.
Num destes momentos de pessimismo patriótico, fiquei pensando que outro país combinou de forma tão perversa os dois elementos fundamentais pro nosso atraso: a cultura monarquista hierárquica e religiosidade? A resposta que me sucedeu foi a França pré-revolução. Automaticamente um pensamento nefasto me ocorreu: “Será que pra nos livrarmos destas amarras precisaremos de um movimento tão violento e intenso quanto a revolução francesa? Será a solução pros nossos problemas uma era do terror?”
Me acalmei, rumo a faculdade, com a imagem da Rainha de Copas, da obra prima de Lewis Carroll, gritando à esplanada: “Corrrtem as cabeças!! Corrrrtem as cabeças!”
1 comentários:
concordo em grande parte, essa brasilidade excessiva serve como desculpa pra qualquer coisa!
já li algumas coisas sobre a transformação das pessoas nos automóveis (minha irmã esses dias até me lembrou de um episódio do pateta em que ele entra no carro e vira um monstro) e lembro do atual estado da internet: as pessoas também parecem se transformar em discussões virtuais! as vezes entro em algumas notícias do site da folha.com.br só pra ver os comentários da galera, tem algumas coisas revoltantes
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