terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

A Mais Importante História não Reportada da Atualidade: O Fim do Cérebro

O Marcos Elias é gestor de fundos (Gas/Galleas/Empiricus). Figura controversa no Mercado Financeiro, escreveu um romance, Jus Sanguinis (que ainda não li). Porém não perco as ótimas crônicas que publica entre os calls da Empiricus Research. Catalogando:

A Mais Importante História não Reportada da Atualidade: O Fim do Cérebro

Por Marcos Elias.

Diante da angústia, do tédio e das pressões que vivenciei na minha infância e adolescência, eu passei a invejar a vida plácida e calma das plantas e dos animais. Aprendi a rezar (porque estudei em um colégio religioso), e – às tardes – pressionava as pálpebras dos olhos bem fechadas e, com veemência, pedia a Deus: 

“Senhor, muito obrigado por ter-me feito à sua imagem e semelhança, mas eu não estou a fim. Não quero mudar o mundo, e sei que o Senhor deu duro por 6 dias  inteiros para fazer isso aqui. Não vou te dar trabalho pedindo algo para todos. Mas,  para o meu caso em particular, por favor me transforme em um cachorro ou em um gato, ou mesmo um passarinho pode servir. É que eu não aguento mais ser humano. Sinto-me constantemente ansioso e angustiado, e vejo que estes males não acometem a Princesa (meu pastor alemão) ou a Mitsi (a gata persa da minha irmã). Acho que se tive direito a um modelo de luxo, que é essa carapaça de ser-humano, tenho também o mesmo direito de abrir mão para um modelo mais modesto, não é mesmo? Obrigado,  e Amém”. 

Como podem perceber, Deus deu de ombros para mim. Apelei ao Diabo (naquela velha  técnica de estimular a concorrência), mas as coisas não funcionaram da forma como  queria: este último me forçou a uma vida que aguçou ainda mais as ansiedades e pressões. Honestamente, tenho quase certeza que o velho Lúcifer é um surdo ao estilo “velhinha da praça” pois pedi que me desse o “viço de um pacato abacateiro” e ele me deu “uma vida no mercado financeiro”. Não peço mais nada a nenhum dos dois! Ô  duplinha chata! Andava conformado com o fato de ir morrer mesmo sob a tosca forma  de um bípede cabeçudo. E sabem, não é o corpo que incomoda tanto não, é mais o  cérebro com quem ando tendo grandes dificuldades. Percebam que só pessoas em  grande necessidade precisam de um cérebro. As plantas não! E advinhem? Se viram  muito bem sem esta pesada massaroca: fotossintetizam numa nice!

Mas, depois de amargar quase 40 anos em comunhão total com a minha massa  cinzenta, estou felicíssimo pois sei que o cérebro humano, em geral, está prestes a acabar! E o melhor: Deus não poupou esforços e estendeu esse privilégio a todos os  sapiens. Que bom! (Descobri que Deus é como uma boa ação judicial: um dia o ganho  vem, mas é preciso muita paciência!).

The human brain is dead as dead! 
Como? 
Assim: 
- Os humanos se comunicam. Os golfinhos também. 
- Os humanos são capazes de elaborar ferramentas. O chimpanzés também.

2 x 2, ou 0 x 0, e até aí essa modalidade de cérebro que nos atormenta (e do qual  todos os humanos de bom senso querem se livrar, tenho certeza disso!) está empatada  com cérebros menos angustiantes.

- Arrá! Mas os humanos têm consciência. Nós sabemos quem somos e eles (os  macacos e os golfinhos) não! Eles – espertamente – não passam uma vida ruminando  sobre o self. Não, não, não: biólogos como Lynn Margulis demonstraram que bactérias  não poderiam gerir seus sistemas de locomoção, tampouco de navegação se não  fossem capaz de alguma percepção de que estão equipadas com esse aparato. Hoje, depois de Margulis, ninguém mais ousa discutir que exista consciência em outros  animais. Mas voilà: “Apenas os descendentes dos Australopitecus puderam desenvolver a capacidade de  criar símbolos".

Ninguém sabe o porquê disso. Talvez seja pelo fato de – há 6.000 anos – as mães terem  saído de casa para trabalhar na lavoura e deixado seus filhos chorando e gritando o dia  inteiro. Então criamos os símbolos! Que lindo! Nenhum chimpanzé arriscaria sua vida pelas cores do Manchester! Tampouco pelo  brasão sérvio! Nenhum chimpanzé deixa seus recém-nascidos na mão! E a capacidade de criar e de seguir cegamente um símbolo levou ao ocaso do cérebro  humano, cuja nobre função é a de antecipar-se a algumas questões e buscar seguir a  direção correta. Mas talvez o Diabo, para não ficar na mão (e mal na foto comigo), esteja arquitetando a sua vingança ao criar um cérebro coletivo chamado Internet... E daí reforço: “Ó Senhor, por favor, tudo o que eu quero é o cérebro do um macaco e um dia na praia!".

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