A atual
crise política, evidenciada pela efervescência das ruas, é em grande parte resultado de um
processo de descaracterização dos partidos políticos no processo eleitoral. Na
busca de vender o seu peixe, os partidos abandonam seus projetos e suas
convicções para se pautar em estratégias de vendas.
Nas
ultimas eleições majoritárias, aquelas que decidem no plano executivo do poder
os governadores e o presidente, as principais discussões e embates foram no
âmbito religioso e intimo: o candidato acredita em Deus, não acredita em Deus,
é a favor do casamento gay, é contra o casamento gay. Questões que os
marketeiros políticos, através das malditas pesquisas de opinião pública, entenderam
serem as mais sensíveis para o eleitorado. Da mesma forma os programas
políticos foram elaborados através de um processo mais próximo da criação de um
produto cujo o objetivo é agradar o maior numero de consumidores, do que uma
proposta de governo.
Ora,
não se governa através da opinião publica. Para exercer a política, fazem-se necessárias
convicções políticas. Mais necessário ainda, transformar convicções políticas em
ações práticas que consigam atender as demandas da sociedade. Seriam estes os
fatores que deveriam estar em jogo no processo eleitoral. Qual a melhor proposta para a gestão da verba
do governo? Qual candidato vai melhorar o processo democrático? Qual candidato
tem a melhor estratégia para o desenvolvimento econômico? De que forma os candidatos pretendem aumentar o acesso à justiça? Nenhuma destas
questões foram abordadas no processo político das ultimas eleições.
E o
problema do excesso de maquiagem na política, dificulta a escolha, inclusive
nos meios mais intelectualizados, que são persuadidos através de técnicas mais
elaboradas. Neste caso, os
chefes de campanha se utilizam da venda de ideologia para os eleitores: tal
partido é de esquerda e tal partido é de direita. Ideologia por si só não faz
ninguém mais honesto ou melhor gestor público. Votar em um candidato ou partido somente por
afinidade ideológica, sem uma análise mais profunda do histórico de PRÁTICAS e das
proposições políticas, é tão inútil quanto votar em um político por ele
acreditar em Deus ou não.
O
resultado do processo político atual é a falta de identificação do eleitorado
com as praticas políticas. Se os eleitores decidem seus votos através da
similaridade de devoção religiosa, basta ao seu candidato continuar devoto da
mesma religião, para que ele atenda às demandas políticas do seu eleitorado. Da
mesma forma, se você define o seu voto através da afinidade ideológica, basta
seu candidato se ater à ideologia propagada, que ele esta atendendo a sua
demanda política.
Não é a
toa que os políticos mandam as favas os problemas reais do país e focam quase
que exclusivamente no jogo político fisiológico. Eles foram eleitos por
eleitores que também mandam às favas os reais problemas do país e votaram
mesquinhamente em candidatos que levantam a sua bandeira religiosa ou política.
Só para
exemplificar que ideologia e religião tem pouca importância na escolha dos
candidatos, o presidente Abraham Lincoln, o presidente mais progressistas da
historia dos EUA e ícone político era do conservador partido Republicano e o
presidente Lyndon Johnson, responsável por intensificar a guerra do Vietnã ,
era do carismático partido Democrata.
O presidente Richard Nixon, também retratado
como vilão na guerra do Vietnã, era um Quaker, religião extremamente pacifista,
e o laureado com o Nobel da Paz Jimmy Carter,
um defensor dos direitos humanos assim como do feminismo, era um evangélico
Batista, que se desligou da sua congregação ao se opor às premissas religiosas
de submissão das mulheres.